Por Cilea Lima, na rede social –
Eu sou advogada e sempre trabalhei com os grupos que o #Bolsonaro persegue, entre eles, quilombolas, indígenas e aqueles que foram vítimas de perseguição e tortura durante a ditadura militar. Fui advogada de ex-presos e ex-perseguidos políticos e também diretora da Primeira Câmara da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça.
Período em que eu acompanhava os processos e coletava relatos de vítimas com intensas sequelas físicas e psicológicas das torturas sofridas, praticadas pelas autoridades do regime militar brasileiro. Entre essas vítimas de tortura estavam homens que até hoje dependem de muletas para andar, por causa de choques elétricos no saco escrotal.
Pais e mães espancados na frente dos filhos pequenos até seus corpos se deformarem, cobertos de sangue. Mulheres estupradas e mutiladas durante a tortura com instrumentos perfurocortantes.
E o pior dos inúmeros relatos que ouvi pessoalmente: baratas vivas introduzidas nas vaginas das mulheres pelo próprio delegado que conduzia as sessões de tortura. Uma das crianças torturadas junto com seus pais se suicidou quando tinha uns 30 anos. Não suportou mais a depressão.
Todos esses relatos que ouvi ao vivo, olhando nos olhos de vítimas que ainda sofrem e choram pela dor física e psicológica que nunca cessam, tiraram as minhas forças para continuar trabalhando nessa área. Confesso. Saí da Comissão por não ter mais estrutura emocional/psicológica e não poder mais ampará-las como gostaria durante as escutas.
Considerando a história de vida dessas pessoas e a minha própria história profissional, eu me sinto totalmente constrangida em ver um candidato à presidência da república negar a ditadura e defender a tortura e aqueles que a praticaram, além de perseguir grupos já fragilizados pela história de escravidão negra e de extermínio indígena no país. Esse é o meu motivo. A razão que me fez escolher jamais votar em #Bolsonaro, e também não compreender aqueles que o escolheram.