Por Carlos Eduardo Alves, Facebook –
Conheci o Rio já na adolescência. Não tem como não se encantar com a paisagem. Mas gostava mesmo é de certas informalidades que não via em São Paulo. Aqui, por exemplo, jamais havia visto a cena de uma pessoa chegar no cobrador de ônibus, contar um historinha e pular a catraca. Me divertia com gestos do tipo e me maravilhava com as meninas bonitas.
Depois, passei um tempo na casa de uma tia querida em Santa Teresa. Que cenário! E, para quem gosta de futebol, ir ao Maracanã antigo lotado de bandeiras,então, era memória boa garantida para o resto da vida.
Sempre achei uma tremenda babaquice essa rivalidade entre RJ e SP, forjada, acho, fortemente no futebol. São cidades de afetos e características diferentes. SP, por causa da pujança econômica, atrai mais pessoas de outros Estados (inclusive muitos cariocas) e países, tem uma vida mais cosmopolita e por isso carece em certo sentido de um perfil regional claro. O Rio é mais carioca em tudo. De alguma maneira, acho que seriam cidades complementares.
Mais tarde, namorei uma menina carioca e passei a ir mais ao Rio. Ficava num hotelzinho da Silveira Martins (?), no Flamengo, e conheci mais o cotidiano da cidade. Vi que a balela de que carioca não trabalhava era só balela mesmo e que ali ainda se vivia de uma maneira menos selvagem. Até relevava uma certa esculhambação nos serviços, mais eficientes em SP. Sorte talvez, andava à noite a pé sem medo, o que às vezes não ocorria na minha SP. Ah, e me maravilhava com a quantidade de casais de namorados que misturavam brancos e negros. Era muito maior do que em SP.
Fui várias vezes a trabalho no Rio e já observava coisas que um olhar juvenil não seria capaz. O encanto com as pessoas sempre foi o mesmo, mas me chamava a atenção o número de equipamentos federais na cidade, herança dos tempos de capital do Brasil. Hospitais, Universidades, parte de Ministérios etc. Era estranho para um paulista, já que aqui a presença federal beira o quase nada.
Outra diferença que via era o papel das elites, ambas predatórias. A paulista valia-se basicamente da exploração do trabalho alheio, embora alguns deem a isso o nome do empreendedorismo. É o básico “deixa que eu chuto”. Com atividade econômica bem mais fraca, tenho a impressão que boa parte da elite econômica carioca é ou era lastreada mais em herança, que em boa parte se esvaiu com o tempo. A limitação, ou falta de vocação mesmo, fabril talvez explique em parte a fraqueza do PT quando ainda era PT no Rio.
Enfim, o Rio sempre será o Rio único. Não é mais para amadores e aí é que dói. É desolador ver o que fizeram com a cidade. O saque, a destruição dos serviços públicos, a Uerj agonizando, as mortes sem fim por violência, servidores sem salário … Como foi possível fazer isso com o Rio querido? Que pacto com o diabo fizeram os gestores que conseguiram atrapalhar tanto aquela preciosidade? Os aventureiros lançaram mão, como na música, mas o Rio sempre será o Rio para quem teve, tem e terá a sorte de conhecer essa belezura brasileira.
Crédito das fotos: Américo Vermelho