E a coluna “A César o que é de Cícero”, do doutor em Literatura Cícero César Sotero Batista, dá um furo de reportagem. Atenção mundo: Michael Jackson não morreu. E, quem diria, foi parar em Nilópolis/RJ.
Vejam e constatem que Michael Jackson não é fim de feira:
“Além da escola de samba Beija-Flor, a feira da Mirandella é uma das atrações turísticas de Nilópolis. O turista-aprendiz deve ir a um ensaio da escola no sábado, sambar a noite inteira e recarregar as energias com um caldo de cana e um pastel dos inúmeros “Japas” da feira, já no domingo pela manhã. Assim faria a trilha dos bons sujeitos, bons de samba e de fígado.
Já ouço o elétrico Galvão Bueno a dizer: “Isso é um teste para cardíacos e hepáticos”. E dessa vez ele não estaria exagerando.
Não sei se vale a pena ir em tais condições ao Parque do Gericinó, outra atração da cidade. É se arriscar demais. Depois de tantos aditivos, isto é, de tantos atrativos, é melhor deixar tal visita para dias de temperatura mais amena, no final da tarde, porque o calor no parque de manhã é de rachar mesmo. E não há muitos locais de sombra na maioria do trajeto. Nem para passarinho. E depois de ter sambado a noite inteira…
No passeio pela feira, é bem capaz de você topar com o Michael Jackson da Mirandella, personagem folclórica destas bandas da cidade. Por mim, ele viraria patrimônio cultural, visto que é uma personagem incontornável. Para muitos, é apenas um homem de parafuso frouxo que a bem da verdade nem se parece lá tanto com o Michael Jackson.
É moreno, de cabelos compridos e enrolado, já entrado em anos e na calvície. Tudo bem, ele tem chapéu, usa uma luva prateada, as calças pescam siri e os sapatos Vulcabrás não nos deixam mentir: ele se esforçou para se parecer com seu ídolo.
A playlist de sua caixa de som espalha os mil benefícios da música Pop para o alto e além. E ele não se incomoda com a crítica de ninguém, absorto em sua homenagem solitária.
Meu filho, que é fã de Michael Jackson, já deixou um trocadinho na caixinha de madeira do pobre do MJ da Beija-flor. Não sei se foi por pena do imitador, que dançava e urrava em meio à indiferença do público passante, ou se foi pela admiração pelo Rei do Pop, que é algo que meu filho tem de sobra. Enfim, enfim.
Em uma daquelas cenas antológicas que são registradas nas películas do coração, eu vi meu filho depositar cinco reais em uma caixinha para depois sair de cena deslizando um dos inúmeros passos que treina às escondidas no quarto. Fãs de Michael, uni-vos!
Ontem eu passei pela feira e vi o Michael Jackson fazendo pela enésima vez seu número. Enquanto eu comprava ovos, entreouvi a conversa das pessoas que consideravam toda a encenação coisa de gente maluca.
Isto é porque eles não viram o Michael Jackson imitar o Ayrton Senna, aquilo sim que é coisa de outro mundo. Ele imitava os trejeitos do grande campeão da F1 sentado ao chão ao som do indefectível “Hino da Vitória”. De MJ a Senna foi, em suma, um pulo. Por que ele não varia o show? Poderia fazer numa semana o do Michael, na outra o do Senna. Por que não?
Tudo bem, tudo bem. O Michael Jackson da Beija-Flor é tão parecido com o Ayrton Senna quanto o Michael Jackson era parecido com o Michael Schumacher. Mas o que vale é o sonho, é ou não é?
Eu só não sei se meu filho ia se dispor a colocar cinco reais na caixinha de madeira que fica ao lado da potente caixinha de som para ver imitação de corredor de F1. Meu filho não gosta nem um pouco de corrida. Agora se o Michael Jackson imitar o Bebeto ou o Romário na Copa de 1994, acho que até eu sou capaz de ninar uma criança invisível após ter convertido um gol. Até eu sou capaz de dizer “Eu te amo” para o Michael Jackson da Mirandella. Saudosos do bom futebol, uni-vos!
Vejam o Michael Jackson de Nilópolis
Sobre o autor
Radicado em Nilópolis, município do Rio de Janeiro, Cícero César Sotero Batista é doutor, mestre e especialista na área da literatura. É casado com Layla Warrak, com quem tem dois filhos, o Francisco e a Cecília, a quem se dedica em tempo integral e um pouco mais, se algum dos dois cair da/e cama.
Ou seja, Cícero César é professor, escritor e pai de dois, não exatamente nessa ordem. É autor do petisco Cartas para Francisco: uma cartografia dos afetos (Kazuá, 2019) e está preparando um livro sobre as letras e as crônicas que Aldir Blanc produziu na década de 1970.