O mistério da Rainha da Delação não será decifrado pela mídia tradicional e aqui estão as razões

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Paulo Nogueira, Diário do Centro do Mundo – 
O mistério da Rainha da Delação não será decifrado pela mídia tradicional.

Isto é batata, como dizia Nelson Rodrigues.




Duas manifestações de dois jornalistas de visões diferentes ilustram bem o caso.

Primeiro, Xico Sá, ex-Folha, um livre pensador que é hoje um dos críticos mais lúcidos da miséria moral da imprensa brasileira.

Se houvesse imprensa “independente” – a palavra mais correta, para mim, é decente – você veria grandes reportagens sobre esse extraordinário caso.

Foi o que disse Xico.

Do outro lado, num comentário na CBN, Merval Pereira, símbolo da imprensa estabelecida, produziu uma sentença a seu modo também reveladora.

Merval disse que o caso é “muito” grave. Nos melhores manuais de estilo, recomenda-se evitar o adjetivo “muito” por ser desnecessário e feio.

Era uma coisa que eu sempre falava aos jovens jornalistas que se iniciavam nas redações sob meu comando.

Mas em todo texto de Merval nada é “grave”, como se fosse pouco. Tudo é “muito grave”.

Depois de definir daquela forma a súbita desistência da Rainha da Delação, Merval diz que é urgente investigar.

Mas.

Mas ele terceiriza a investigação. A imprensa não tem que apurar a história. É a Polícia Federal que tem.

Não discuto que a PF deve ir atrás do caso. Mas e a imprensa, deve ficar de bunda sentada à espera de que policiais vazem informações?

Quantos repórteres as Organizações Globo, já que falamos de Merval, não possuem? Que eles estão fazendo para trazer luz às sombras do episódio?

Nada.

É o que tem acontecido, na verdade.

A mídia, indolente, se contenta em pegar o telefone para tentar arrancar vazamentos – suspeitíssimos, aliás – da PF.

A falta de ação concreta é bisonhamente compensada por um estardalhaço ridículo.

No Twitter, o editor da Época, Diego Escosteguy, o Kim Karaguiri das redações, fica postando alucinadamente “bombas” que destruirão a República como a conhecemos.

É um comportamento semelhante ao de outro bombeiro serial, Claudio Tognolli, ghost writer de Lobão. Ele já anunciou uma centena de bombas, ou mais, e nenhuma delas teve o menor efeito.

Mas isso não o impede de continuar a anunciar bombas.

Diego Kataguiri faz o mesmo, como tantos outros jornalistas da mídia em extinção.

Se parte da energia despendida na pirotecnia verbal fosse gasta em investigação real, teríamos uma imprensa bem melhor.

O caso de Beatriz Catta Preta – e o fascínio da história já começa no sobrenome invulgar – é “muito grave”, para emprestar o clichê de Merval.

O que leva uma especialista em delações do calibre dela a abandonar seus clientes, a esta altura, e se bandear para Miami?

Pressões? Que pressões? De quem?

Não há nada, aí, que repórteres competentes não pudessem investigar.

Mas não. As redações estão viciadas em pegar vazamentos selecionados e transmiti-los, bovinamente, para seus leitores.

Quem não se lembra do “eles sabiam” com que a Veja tentou manipular as eleições às vésperas do segundo turno?

Passados seis meses, o que a revista avançou, de fato, sobre aquela declaração bombástica?

Yousseff, o alegado autor da declaração, já apareceu em depoimentos falando muita coisa – mas nada daquilo que a Veja disse que ele disse.

Definitivamente, o mistério de Beatriz Catta Preta não será decifrado pela mídia.

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