O mistério sobre o letrista de Rosa, de Pixinguinha

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Publicado em Jornal GGN –

Um dos grandes enigmas da música brasileira é sobre o verdadeiro autor da letra de “Rosa”, música de Pixinguinha. A música está registrada em nome de Otávio de Souza, ao que consta um mecânico que morreu muito jovem.




Mas, devido ao rebuscamento da letra, parte dos historiadores atribuem a Cândido das Neves, autor de canções românticas, rococós e inesquecíveis. A prova seria outra música de Cândido das Neves, uma suposta parceria com Pixinguinha, mas registrada apenas em nome de Cândido. Seria a prova da troca que fizeram.

Tenho cá para mim que essa hipótese é profundamente desrespeitosa para com Otávio de Souza, mas, principalmente, para com Cândido das Neves.

Este era rococó, mas suas letras mantinham coerência.​

O non sense da letra de “Rosa” lembra muito mais um poeta menor que se encantou com os volteios de Cândido das Neves, copiou seu estilo, mas sem diospor de seu talento.

O que vocês acham? Confiram mais embaixo as letras de “Rosa” e de outras musicas de Cândido das Neves, o Índio.

Aqui o programa “Pixinguinha Cantado”, de uma excelente série sobre Pixinguinha gravada pela Rádio Batuta do Instituto Moreira Salles.

(Independentemente de “Rosa”, há preciosidades, como a valsa de Pixinguinha na qual Vinicius colocou uma letra em francês).

Rosa

Pixinguinha

Álgida saudade me maltrata

Desta ingrata

Que não me sai do pensamento

Cesse o meu tormento

Tréguas à minha dor

Ressaibos do meu triste amor

Atro é o meu grande martírio

Das sevícias tenho n’alma a cicatriz

Deus, tem compaixão deste infeliz

Mata meus ais

Por que sofrer assim, se ela não volta mais?

Esse pobre amor que um dia floresceu

Como todo amor que é sem vigor, morreu

Ai, mas eu não posso esquece-la, não

A saudade é enorme no meu coração

Versos que a pujança deste amor cantei

Lira de poeta que a sonhar vibrei

Cinzas, tudo cinzas eu vejo enfim

Esta saudade enorme que reside em mim

Morto ao dissabor do esquecimento

Num momento ebanizado da paixão

Está um coração que muitas dores padeceu

Um pobre coração que é o meu

Dentro de minha alma que se aflige

Tem uma esfinge emoldurando muitas fráguas

Deus, por que razão que as minhas mágoas

A minha dor

Não fogem da minha alma

Como fugiu o amor?

Página de Dor

Cândido das Neves

 

Página de dor

Que faz lembrar

Volver as cinzas

De um amor

Infeliz de quem

Amando alguém

Em vão esconde

Uma paixão

A Última Estrofe

Cândido das Neves

Deus, só Deus

Sabe que os olhos teus

São para mim

Dois faróis clareando o mar

Na fúria do mar

Onde naufraga uma barca

Que o leme perdeu

Coitada, essa barca sou eu

A naufragar

Na existência que é o mar

Socorre-me com a luz desses faróis

Que são teus olhos azuis

São dois lírios os teus seios alabastrinos

Quase divinos

Parecem feitos para o meu beijo

Muito almejo dos lábios teus

Por um som

Pela glória do nosso amor

Musa dos versas meus

Inspira-me por quem és

Minha alma, bendito amor

Curvada aos teus pés

Rosa opulenta

Que o meu jardim ostenta

A queima em dor

Inspiração do meu amor

Eu nem sei por que foi que te amei

Pois tudo em ti é formosura e singular

Amei teu perfil

Amei teus olhos azuis

Eu amei teu olhar

Por fim nem tens pena de mim

Que sofro e choro

Na ânsia de te amar

Ah, triste de quem

Vive a chorar por alguém

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