O modo Folha de canalhice

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Por Mário Marona, jornalista – 

À Folha não basta ser regularmente canalha, como toda a mídia comercial brasileira.

Precisa mostrar-se radicalmente canalha, de vez em quando, para manter sua liderança no ranking da canalhice.




É o que faz na edição de hoje, ao fabricar uma reportagem para acusar Lula de mentir ou distorcer fatos nas entrevistas e nos discursos que fez desde que foi solto.

O truque da Folha quando precisa mostrar que acanalhou-se muito mais do que seus concorrentes é relativamente simples: chamar o inimigo de mentiroso por dizer mais ou menos o que o própria jornal já noticiou, sem considerar que, por ser quem é – um político lutando por sua liberdade e pelo poder – o alvo da Folha utiliza ênfase e retórica diferentes das adotadas no jornalismo.

Alguns exemplos?

A Folha noticiou, com chamada de primeira página, que para apressar o julgamento de Lula no caso do triplex o TRF-4 passou o seu caso na frente de 76% dos processos que estavam à espera de decisão. Lula denunciou este fato como uma injustiça, e a Folha, na matéria de hoje, o acusa de ter distorcido a verdade. Verdade que o próprio jornal revelara!

Lula criticou a Lava Jato por acusá-lo “sem provas” e “com convicções” e a Folha, hoje, diz que ele mente, mas informa, no mesmo parágrafo, logo em seguida, que, de fato, os procuradores da operação, na famosa entrevista do power point, disseram que não tinham provas cabais, mas tinham convicções.

Em retórica deliberadamente forte, Lula diz ter passado 580 dias numa solitária. A Folha diz que é mentira. Talvez considerasse verdade se Lula tivesse ficado preso numa masmorra ao lado do Conde de Monte Cristo. Mas a verdade é que Lula passou, sim, 580 dias numa cela adaptada em que não tinha contato algum com ninguém além de seus advogados e, uma vez por semana, alguns parentes. A isto se chama imposição da solidão, por sinal não prevista na sentença.

A Folha também diz que Lula mente ao acusar a Globo de ignorar as denúncias contra a Lava Jato pelo Intercept. De fato, a Globo não ignorou o assunto, mas praticamente, com raras exceções, limitou-se a noticiar apenas as acusações contra o Intercept por ter publicado informações obtidas por hackers. Até a Folha deu muito mais espaço à Vaza Jato.

Alguém esqueceu que, desmascarada por ter divulgado uma ficha falsa do Dops como se fosse de Dilma, a Folha, depois de longa resistência, afirmou que, de fato, a ficha era falsa, mas bem que poderia ter sido verdadeira?

Ou seja: “nossa notícia é mentirosa, mas poderia não ser”.

É o modo Folha de canalhice e manipulação.

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