Por Bruno Falci, correspondente em Portugal e colaboração de Maíra Santafé, publicado em O Cafezinho –
A União de Resistentes Antifascistas Portugueses – URAP – organizou, na manhã deste sábado (10/03), no Cemitério do Alto de São João, junto ao Mausoléu dos Tarrafalistas, uma homenagem aos presos políticos que foram assassinados no campo de concentração de Tarrafel pela ditadura do Estado Novo, em Portugal. Este ato acontece todos os anos, para que a memória do fascismo se mantenha viva; para que não se esqueçam dos bárbaros métodos e crimes cometidos.
Cerca de 50 pessoas, combatentes à ditadura de Salazar e seus familiares, fizeram uma homenagem àqueles que lutaram pela liberdade e por um Portugal mais justo. Lembrar a destruição e genocídio que o fascismo cometeu na Europa é uma forma de evitar que ocorra novamente, além de manter viva a memória daqueles que morreram e sofreram no campo de concentração de Tarrafel, lembrando que seus sacrifícios não foram em vão.
Tarrafel aparece durante os períodos conturbados da Europa de 1936. A Guerra Civil Espanhola estava em pleno conflito aberto. A Luftwaffe (força aérea Nazista) se preparava para bombardear cidades, como Guernica. Já em Portugal, Salazar deixava o povo em completa miséria, enquanto enviava a Franco mantimentos para derrotar o governo da República da Espanha. Nesse contexto, marujos portugueses se recusaram a desembarcar em portos franquistas, em solidariedade aos Republicanos da Espanha. A revolta resultou na prisão desses marujos, que acabaram por ser expulsos da Armada. Porém, os marinheiros estavam lutando por uma ideia e para impedir a ascensão do fascismo na Europa. Os marujos, não se amedrontaram e não reconheceram suas penas. O resultado foi que os navios dos revoltosos foram bombardeados por seu próprio país e todos acabaram presos e condenados a pesadas penas.
Esse movimento foi dirigido pela ORA – Organização Revolucionária da Armada – que assustou Salazar e, como resultado, decidiu criar um campo de concentração, no mesmo modelo dos nazistas, na ilha de Santiago: o campo de concentração de Tarrafel – que passou a ser conhecido como campo da morte lenta, onde Salazar resolveu assassinar os dissidentes mais radicais de seu regime, longe de sua terra, de suas famílias e da opinião pública.
A maioria era de jovens , que acreditavam e lutavam por um Portugal mais justo e democrático. Sofreram bárbaras torturas e muitos deles foram assassinados. Como a coordenadora, Marília Villaverde Cabral, do Conselho Directivo da URAP afirmou em sua fala, “o campo era um rectângulo de uns duzentos metros por trezentos passos, circundado por uma vedação de arame farpado e de toros de madeira . Os ventos traziam os cheiros imundos, empestando a atmosfera e espalhando o mosquedo”.
O campo de Tarrafel durou 18 anos e seu fechamento se deu devido a denúncias e solidariedade nacional e internacional. Importante lembrar que o campo foi reaberto para aprisionar patriotas durante as guerras coloniais e, por essa razão, a URAP defende a construção de um Memorial Internacional.
É fundamental contar essa história, para que não seja esquecida; pois o mundo hoje passa por um renascimento das ideias fascistas. No Brasil do golpe, o discurso fascista vem aparecendo com mais força. Guerras se alastram em todo planeta; derrubadas de governos republicanos e populares, através de golpes de Estado; perseguições políticas, como a sofrida pelo presidente Lula. Todas essas características vêm de ideais fascistas que ressurgem. Por isso, terminamos esse texto com as inesquecíveis palavras de Aurélio Santos, preso em Tarrafel:
“A luta antifascista mantém-se como necessidade actual. Há quem diga que o fascismo já passou à Historia. Só uma grave ou leviana incompreensão da história pode levar a convicção de que a derrota do nazi-fascismo na Segunda Guerra Mundial pôs em definitivo o mundo ao abrigo de regimes autoritários e ditatoriais que restabeleçam métodos e as políticas que o fascismo quis impor ao mundo na sua versão do século XX.”
Nada mais atual para nosso Brasil.
Abaixo, a letra da música que foi escolhida pelo Movimento das Forças Armadas (MFA) para ser a senha de sinalização da Revolução dos Cravos. Meia-noite e vinte do dia 25 de abril de 1974, a canção foi transmitida pelo programa Limite, através da Rádio Renascença, como sinal para o início da revolução. Por este motivo, transformou-se em símbolo da Revolução, assim como do início da democracia em Portugal.
Grândola, Vila Morena (Zeca Afonso)
Grândola, Vila Morena
Terra da fraternidade
O povo é quem mais ordena
Dentro de ti, ó cidadeDentro de ti, ó cidade
O povo é quem mais ordena
Terra da fraternidade
Grândola, Vila MorenaEm cada esquina, um amigo
Em cada rosto, igualdade
Grândola, Vila Morena
Terra da fraternidadeTerra da fraternidade
Grândola, Vila Morena
Em cada rosto, igualdade
O povo é quem mais ordenaÀ sombra duma azinheira
Que já não sabia a idade
Jurei ter por companheira
Grândola, a tua vontadeGrândola a tua vontade
Jurei ter por companheira
À sombra duma azinheira
Que já não sabia a idade