Publicado no Jornal GGN –
Depois da lista da Lava Jato, a crise institucional pega todos os poderes: Executivo, Legislativo, Judiciário, partidos políticos, o Ministério Público (ameaçado por uma CPI do Senado) e a velha mídia. É uma barafunda tão grande que fica quase impossível calcular a resultante final.
De qualquer modo, o governo deixa de ser alvo único, o que ajudará a dispersar as pressões.
O governo Dilma conseguiu se indispor com os empresários ao permitir o descontrole fiscal; com os movimentos sociais ao fazer o ajuste sem consulta-los; alimentou a onda contra a Petrobras pela demora em agir; desgastou-se com o Judiciário pela falta de verniz político; com o Congresso, por tentar disputar a eleição da presidência da Câmara sem condições. E com todos por não ouvir ninguém.
Mas continua sendo melhor que a oposição.
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A divulgação da lista da Lava Jato pela primeira vez tirou Dilma do foco do noticiário. Aí a presidente aparece em rede nacional para chamar os tiros para si novamente.
Mas tem trunfos. É republicana até o limite da ingenuidade, está empenhada em uma saída econômica ortodoxa (melhor do que não ter saída nenhuma) e não mostra disposição para a radicalização. Principalmente: o impeachment não é saída para ninguém.
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Com o quiproquó dos últimos dias e a contagem regressiva para as manifestações dos dias 13 e 15, o quadro fica assim:
Congresso –está sob a artilharia do Ministério Público Federal e do STF (Supremo Tribunal Federal). Além disso caiu a ficha de que o PMDB é partido aliado; e o PSDB o partido que quer destruir Dilma.
Ministério Público Federal – na mira de uma CPI do Senado. Sem abdicar da punição aos culpados, terá que descer do pedestal, agir com sensibilidade política.
PSDB – saiu quase ileso da fase inicial da Lava Jato, mas abriu dois flancos: o foco de luz na lista de Furnas e em outro inquérito que pega em cheio o senador Aécio Neves, devido a uma offshore em nome da Fundação Bogart & Taylor no ducado de Liechtenstein. Desde 2010 esse inquérito repousa na gaveta do Procurador Geral. Além disso, se Dilma cai, entra o PMDB de Temer.
Movimentos a favor – Dilma conseguiu criar tal perplexidade nos aliados que ainda não se sabe se a manifestação do próximo dia 13 será a favor da Petrobras ou contra o pacote fiscal.
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A única certeza que se tem, sobre esse imbróglio monumental, é que se Dilma Rousseff demonstrasse um mínimo de competência política, a crise seria debelada. Por várias razões:
- Não há a menor possibilidade de um impeachment via Judiciário, ainda mais depois que a Lava Jato não revelou nenhum envolvimento direto da presidente. Para avançar por aí, o Judiciário teria que atropelar os instrumentos legais.
- É escassíssima a possibilidade de Dilma jogar a toalha e renunciar. Entre os defeitos da presidente, certamente não está o de desistir da luta.
- É improvável um impeachment via Congresso. Primeiro, pela desarticulação do próprio Congresso com a Lava Jato. As manifestações de reação de Renan Calheiros e Eduardo Cunha são muito mais fruto de desespero do que de demonstração de força.
- A economia está fraca, mas longe de uma desorganização geral.
Nos próximos dias, se verá um fenômeno curioso e previsível. Vai cair a ficha do meio empresarial que grande parte da instabilidade econômica decorre da atuação de Fernando Henrique Cardoso, como principal ideólogo da luta política selvagem.
Os empresários que acreditaram que o choque ortodoxo era a única maneira de preparar o país para a nova etapa, que o pacote fiscal era inevitável, que aceitaram o discurso do PSDB e de seu guru máximo, FHC, devem estar tão decepcionados quanto os petistas que acreditaram que não haveria arrocho. Em breve entenderão que a última das bandeiras do PSDB – a de não colocar os interesses partidários acima dos interesses nacionais – era apenas uma falácia.