Por Claudio Lovato Filho, jornalista e escritor, para o Bem Blogado –
O poema mais lindo que li não foi escrito pelo meu poeta favorito.
Meu conto preferido não está no livro de contos de que mais gosto. Aliás, não foi escrito pelo contista que mais admiro.
O melhor filme a que assisti não integra a filmografia do meu diretor predileto. Nem foi estrelado por aquele que considero o maior de todos os atores. Nem teve seu roteiro assinado por aquele que, em minha opinião, escreveu o melhor conjunto de histórias para a tela.
O quadro mais extraordinário que conheço não foi pintado pelo artista que, para mim, é o mais genial.
E o que isso significa?
Que é preciso estar atento ao bando e ao outsider.
À peça e à engrenagem.
Ao grão e à refeição.
Que é preciso saber apreciar um bom conjunto de obra, mas, também, ter disposição para garimpar a joia que restou só.
Um olho na frota, outro na jangada solitária.
Grandes descobertas são feitas assim.
Sob os holofotes de um grande estádio ou num fundo de quintal de casa de periferia.
Assim é, em todas as áreas: na literatura, no cinema, na música, nas artes plásticas, no esporte, na política.
Viva a massa e viva o desgarrado!
Viva a galera e aquele que se movimenta em solidão.
Desde que busquem a boa revolução.
Desde que lutem – exército ou franco atirador – por dias de mais liberdade, sabedoria e generosidade.
Juntos, em um contexto de crucial metamorfose – esta, sim, inevitavelmente coletiva.
Ilustração de Enio Squeff