O outro lado se uniu

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Por Carlos Eduardo Alves, jornalista, para o Bem Blogado

Alguns setores das esquerdas se surpreenderam com a adesão da fisiologia do Centrão à candidatura de Geraldo Alckmin. Não deveriam. A direita tem a capacidade histórica de preservar os interesses de classe acima de tudo.




Em texto para este BEM BLOGADO, com o título “A direita vai se se agrupar”, já se alertava em maio para o equívoco de alguém achar que as forças golpistas permaneceriam inertes. Não bastaria o conluio com o Judiciário para afastar Luiz Inácio Lula da Silva do páreo. Haveria a tentativa de forjar um concorrente para buscar a legitimidade para a atrocidade social em curso e para mais chicote ainda em 2019.

Se a união da direita convencional e predadora em torno de Alckmin vai dar certo, é uma incógnita. O homem é difícil de carregar, pelas características pessoais e pela ligação com o desastre Temer. Mas é inegável que a candidatura do PSDB ganhou fôlego e delimitou os campos. A extrema-direita com Bolsonaro, a direita tradicional com Alckmin e a centro-esquerda e esquerdas divididas entre o nome que o PT escolher para substituir Lula, Ciro, Manuela e Boulos.

Antes que se levante alguma contestação, aqui se tem como certa a impugnação, mesmo imoral, de Lula. Se assim não fosse, o golpe não teria sentido. Mais até do que tirar Dilma e impor uma agenda de crimes sociais, o golpe sempre teve como cereja do bolo evitar a volta de Lula ao Palácio do Planalto. Como não daria pelo voto, recorreu-se à indecência do tapetão.

Voltando ao fato relevante da semana passada, o que significa a adesão em bloco do Centrão a Alckmin? Na prática, é a reedição do consórcio golpista do ângulo partidário e, mais importante, das forças econômicas (bancos, grandes industriais e comerciantes, agentes estrangeiros com interesse em privatizações etc).

E o que essa turma quer é o que o tal mercado almeja: fundamentalmente fazer a dita reforma da Previdência, principalmente, ceifar até o osso qualquer garantia trabalhista, desobrigar, ainda que de forma dissimulada, o Estado de arcar com programas sociais, diminuir drasticamente gastos com áreas como Saúde e Educação e dar à iniciativa privada estrangeira a preço de banana setores nacionais estratégicos como petróleo e energia.

Temer não conseguiu entregar o serviço completo por absoluta falta de legitimidade. Com um governo eleito pelo voto, a avenida do desmonte social está pavimentada.

Como é muito improvável que dois representantes do conservadorismo cheguem ao segundo turno, o caminho mais previsível agora é que o candidato do PSDB tente recuperar parte do eleitorado que perdeu para Bolsonaro. Terá que desinchar o fascista. Não será tarefa fácil, já que Bolsonaro hoje, infelizmente, conta de fato com uma parcela significativa da população que aderiu à ignorância. Mas isso é problema do lado de lá, por enquanto ao menos.

E as esquerdas com isso? Sabe-se que o PSOL levará até o fim, haja o que houver, a candidatura Boulos. Certo ou errado, é a opção da agremiação, que deve ter no máximo 2 ou 3% dos votos presidenciais, mas que entende que a participação solitária é necessária para a construção partidária nacional. O PC do B não seria obstáculo à criação de um pólo unitário de esquerda já no primeiro turno, se isso fosse possível. O problema é combinar com os russos, P T e Ciro.

O PT entende que a força de transferência de votos de Lula deve assegurar ao seu indicado um lugar no segundo turno. A conferir, principalmente pela razão de não se saber que tipo de participação será acessível ao ex-presidente dado o histórico de decisões vergonhosamente parciais do arremedo de Justiça que temos.

Ciro, que se julga credor do PT, acha que é a sua vez, embora as pesquisas eleitorais deixem cada vez mais evidente que, na atual correlação de forças, a maior probabilidade hoje seja até ficar fora do segundo turno. Tudo somado e subtraído, pode-se dizer que a direita juntou seus interesses de classe. Na esquerda, sobra a torcida para que a desagregação não seja fatal. É pouco, mas é o que temos hoje.

 

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