Digam o que quiserem, não há como negar a coragem do governo e do povo grego. O primeiro por buscar referendar suas propostas com a opinião do povo, a quem representa. O segundo, por confiar na proposta de um grupo que diz não a um poder estabelecido, que usa a força deste povo, e de outros, em benefícios de interesses econômicos e políticos próprios e hegemônicos.
Austeridade nunca foi fator de desenvolvimento, mas de controle de gastos. No caso de países como a Grécia, como também Espanha e Portugal, representou a dívida que o seu povo teve efetivamente de pagar. Quatro anos em que o custo da corrupção, da má gestão e de interesses pessoais a frente de interesses públicos, resultou na opressão da população, vistas em alto índice de desemprego, reduções de salários e de pensões, retirada de benefícios sociais como a isenção na saúde pública.
O fenômeno Syriza, com a eleição que colocou Alexis Tsipras a frente do governo grego, é a resposta de um povo que é berço da civilização ocidental, berço do conceito de democracia, embora não igual ao que temos hoje, mas que, foi e continua sendo a relação de que o Estado deve ser o executor de um serviço para o povo que ali o colocou.
No Brasil, percebo o uso equivocado do ocorrido como se fosse algo aquém dos próprios gregos. Há uma falta da informação ampla sobre o tema. Lógico que isso gera controvérsias e preocupações, um povo esclarecido sabe seus direitos. Mas não esqueçamos que os gregos criaram a democracia e a premissa de ser “o governo do povo, pelo povo e para o povo”, Sólon[1], 590 a.C.
Os meios de comunicação, aqui na Europa, têm aberto longos debates sobre o tema “Grécia”, uns defendem outros atacam o processo. É impressionante como comentaristas, seja de linhas de direita ou de esquerda, surpreendem-se com o fenômeno e tentam imaginar o que acontecerá a partir de agora.
Não importa, a lição já foi dada. Os insurgentes já mostraram a que vieram, que o governo nada mais é que o resultado de uma eleição para os representantes do povo. O povo deve ter o poder de decidir, deve ser ouvido sempre que o que estiver em causa seja algo que interfira diretamente na vida da população.
Mas observo que no Brasil há quem distorça os fatos e dê a eles pouca importância ou um efeito desastroso. Cheguei a ponto de ler um jornal que distorce os fatos e escreveu que os gregos recusaram a proposta de “socorro” financeiro dos credores. O NÃO foi a rejeição a uma proposta que colocaria o gregos em pior situação, pelo capital e por ações de objetivos mercantis. O NÃO, o OXI, foi a aceitação de que outras soluções devam ser empreendidas, soluções que levem o país ao desenvolvimento e não a escravidão financeira e a recessão.
Não é a toa que a comunicação é considerada o quarto poder, quem detém a informação e o meio de transmiti-lá, ou não, detêm o poder sobre como influenciar a opinião pública, o cidadão comum, que preocupado com a sobrevivência no dia-a-dia, se aliena das questões que realmente interferem neste cotidiano e que são responsáveis por gerar a opressão e a austeridade.
O OXI, que significa “não” em grego, representa também o oxigênio necessário a uma mudança e sobrevivência para a Grecia e, quiça, para os demais oprimidos pela austeridade imposta, que mais se parece com uma escravidão financeira e uma releitura do conceito histórico de “senhores feudais e vassalos”.
Já escrevi sobre isso e repito, o grego é o idioma da moda e deve permanecer assim.
A todos meu desejo de muito OXI…gênio.