Por Carlos Eduardo Alves, jornalista, para o Bem Blogado –
O papo é velho, remonta à própria criação das Organizações Globo. Passa pelo apoio à ditadura assassina, tentativa de fraude contra Brizola no Rio, falta de cobertura da campanha pelas Diretas, edição criminosa do debate Lula x Collor, engajamento decisivo como o palanque do golpe recente etc. Crimes contra a democracia não faltam no currículo da Globo. Agora, porém, há uma novidade escancarada: a TV mais vista pelos brasileiros é a porta-voz oficial na luta para convencer a população sobre a conveniência de aceitar a retirada de qualquer tipo de seguridade social.
O caráter de classe, a defesa dos interesses econômicos da elite de sempre é despudorado. Quem vê o JN testemunha diariamente o massacre da informação do pensamento único, embasado sempre pelos “especialistas” também de sempre. São os velhos consultores contra qualquer garantia trabalhista ou previdenciária. Nada para os muitos economistas que têm advertido que as tais reformas apenas abrirão mais espaço à selvageria no país que nem consegue assegurar cidadania mínima a milhões.
Mesmo no tsunami seletivo da cobertura das delações da Odebrecht, sempre sobra um espaço para a pregação antipopular. No intervalo, naturalmente, propaganda paga pelo governo para engordar o já rico cofre da emissora e, naturalmente, tentar convencer os condenados, o grosso da população. É, como se diz, o discurso do “você vai morrer mas depois as coisas vão melhorar”.
Mesmo com a avalanche do monopólio da informação enviesada, a reforma da Previdência ameaça subir no telhado. Não é tarefa fácil, mesmo com muito dinheiro, convencer o pobre que ele terá que pagar com a vida o preço estipulado por golpistas e seus financiadores. Mas a dificuldade do governo não desobriga parte da esquerda a uma dura reflexão, que não deveria ser nada além do que óbvia: os governos do PT não tiveram a coragem necessária, talvez por seu caráter de conciliação, no enfrentamento com os donos do monopólio da comunicação.
A constatação tardia de alguns nos remete à atitude corajosa dos Kirchner na Argentina. Bateu-se de frente com o gigante Clarín em país que, pela escolaridade média e alta politização do cidadão comum, a penetração deletéria daquele grupo não chega aos níveis da Globo no Brasil.
Outra constatação tardia é que infelizmente ainda é reduzidíssimo o poder de fogo de redes sociais, blogs e sites progressistas diante do canhão reacionário dos Marinhos. Seria muito pior sem essas janelinhas para a entrada de ar, sem dúvida. Mas ainda é muito pouco.
Olhando para a frente, o que temos é o combate contra todas as reformas ceifadoras de direitos já mínimos. Existe nos últimos dias alguma paralisia depois do sucesso das manifestações iniciais, no mês passado, conta as mudanças na Previdência. Inegável dizer que há uma certa perplexidade política devido à repetição de notícias envolvendo políticos progressistas na lama da Odebrecht. Negar que exista esse sentimento é, me desculpe quem não o enxerga, viver no mundo da lua. Mas é aí que reside a questão para a esquerda.
A luta pela preservação da seguridade social é tarefa do conjunto das forças populares. Não deve ser atrelada somente a partidos ou líderes. É obrigação de casa do conjunto da esquerda manter acesa a chama do mês passado. Já se obteve recuos, mínimos, na atrocidade pretendida pelo mercado e defendida pela cleptocracia reunida em torno de Temer. É muito pouco ainda. É possível avançar e sepultar de vez a tal reforma.
Nunca um caráter de classe de um governo esteve tão exposto aos pobres como agora. Aposentadoria é tema de família, do cotidiano. É aquele único dinheiro que possibilita compra de comida e remédio. Usando um jargão corporativo, é a janela de oportunidades para a oposição de esquerda ao golpismo. Confrontação de projetos à luz do dia a dia.
Deixemos, pois, as discussões necessárias um pouco de lado enquanto se travar a batalha pela Previdência. Esquerda foi e é sinônimo de um projeto mais generoso. E nunca nos últimos anos a direita esteve tão atrevida e próxima de impor a barbárie econômica a quem não pode se defender. Às ruas contra a retirada de direitos e o monopólio da desinformação da Globo!