Presença do gado no Brasil supera limites da economia, como cultura que vai das roupas a festas populares, disputas e autos dramáticos
Por Luiz Antonio Simas, compartilhado de Projeto Colabora
Na foto: O boi Garantido no bumbódromo do Festival de Parintins: adiamento. Foto de Bianca Paiva (Agência Brasil)
A economia colonial brasileira baseou-se no tripé formado pela monocultura, pelo latifúndio e pelo trabalho compulsório dos escravizados. Apesar disso, atividades econômicas secundárias foram se desenvolvendo e acabaram adquirindo importância significativa na colônia. Uma delas é a pecuária.
As primeiras reses foram introduzidas no Brasil para atender as necessidades da empresa açucareira, com o uso de tração animal nos engenhos, para alimentação e transporte de cargas. O aumento do número de bovinos, todavia, acabou gerando problemas – o gado ocupou espaços destinados à produção de açúcar, algodão, tabaco, etc. A Coroa, em virtude disso, proibiu no século XVII a criação de gado em áreas litorâneas. A pecuária voltou-se, então, para o interior, sendo responsável pelo alargamento do território e a extensão da fronteira. Áreas como o sertão nordestino, parte do Norte, o Vale do Rio São Francisco e as campinas do Sul foram ocupadas assim.
De tão importante e extensa (hoje, há mais bois do que humanos), a presença do gado no Brasil ultrapassou os limites da economia. Há toda uma cultura do boi e do couro que se expressa nas vestimentas dos vaqueiros do sertão e dos gaúchos do pampa; a culinária baseada na carne de boi é riquíssima e diversa, indo do charque ao churrasco. Na cultura popular, autos dramáticos e folguedos ligados ao ciclo do boi apresentam-se em praticamente todas as regiões do país, com características comuns e peculiaridades regionais.