O perigo da bolha, um espelho enganador

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Por Carlos Eduardo Alves, jornalista, para o Bem Blogado

O episódio da demissão da assessora da ministra Anielle Franco deixa muitas lições. A começar pela absoluta falta de ação dos responsáveis diretos, o que exigiu a intervenção do presidente Lula para que a questão fosse encerrada. Convenhamos, não se deveria ter tomado o tempo do mandatário, que tem problemas mais urgentes e importantes para cuidar, se o próprio Ministério da Igualdade Racial não se mostrasse de início relutante para determinar a saída da assessora.




A questão de fundo, no entanto, é outra. Mais do que as ofensas incabíveis escritas publicamente por uma figura que ocupava cargo relevante de uma Pasta inédita criada pelo governo popular, a postura da agora ex-assessora revela o que pensam setores do identitarismo.

A luta contra o racismo e todas as formas de discriminação no Brasil ainda infelizmente tão atrasado é imprescindível e causa mesmo revolta a situação de quem sofre o preconceito de séculos. Muito justo. Mas o que se tem visto é um distanciamento da realidade por parte de quem lidera alguns movimentos em favor de avanços.

Não se busca o diálogo com todos, a exemplo do que faz permanentemente o presidente Lula. Em nome do ativismo necessário, mas que acaba caindo no pueril, o “nós com nós”. É o raso das ofensas, do chulo de rede social rasteira, que é parâmetro de muitas manifestações.

Antes de postar ofensas a descendentes de europeus que eventualmente torcem por algum time de futebol, uma pessoa qualificada no Ministério da Igualdade Racial não pensou nos muito negros que amam o São Paulo Futebol Clube? Que aquela instituição, por exemplo, tem como um de seus maiores ídolos históricos Leônidas da Silva, o “Diamante Negro”? Nem que o primeiro brasileiro a brilhar de verdade no atletismo mundial foi o negro Adhemar Ferreira da Silva, que defendia as cores da agremiação ofendida e que era torcedor do clube?

Não se vai aqui nem adentrar nas ofensas aos “paulistes”, como se os moradores do Estado, incluindo seus milhões de negros, fossem todos seres humanos deploráveis. Certamente a ex-assessora desconhece também que Lula venceu, nos dois turnos, a eleição presidencial na capital do Estado ofendido.

Preocupa saber que esse tipo de pensamento pobre encontre abrigo em governo que tenta, sob cerco do reacionarismo mais descarado, diminuir as centenárias desigualdades e injustiças brasileiras. Não vai ser se fechando em guetos e bolhas, na conversa do “eu com eu” que vai se avançar.

Pelo contrário, o episódio citado serviu de escada para que a direita mais extremada escalasse o mais puro preconceito contra a ministra Anielle Franco, chegando ao esgoto fascista.

O mundo real não é o que queremos ou pelo qual lutamos. Infelizmente. Se optarmos pelo otimismo, podemos acrescentar um “ainda” na frase. O Brasil está dividido, e aí sim cabe um “ainda”. Lula ganhou — é só ele venceria o genocida fascista — por pouco.

As pesquisas atuais apontam uma aprovação majoritária ao governo popular, mas ainda persiste a polarização. Craque da Política, Lula sabe que não é com discurso radical que se alargará a base de apoio do eleitorado, mas sim com uma administração que dê dignidade à maioria pobre. Estreitar nunca foi caminho.

A bolha é má conselheira, é um espelho enganador.

Veja aqui matéria a respeito:

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