Por Carlos Eduardo Alves, jornalista, Bem Blogado
A última pesquisa do Instituto DataFolha chacoalhou o mundo político por diversas razões. A primeira é que, gostem ou não, o departamento de pesquisas ligado à Folha de S.Paulo é o mais tradicional e respeitado do mercado, até por fazer o levantamento através do método presencial, indispensável em País com as características do Brasil. Segundo, por expor claramente os limites de uma propalada “recuperação em V” dos índices de Bolsonaro que estava sendo insinuada por consultas telefônicas. Mas o excelente retrato para as forças progressistas revelado pelo DataFolha embute também um perigo para os adeptos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva: a eleição não está ganha, muito longe disso.
Sim, é verdade que o DataFolha mostrou que, baseado nos números da semana passada, Lula pode liquidar a fatura no primeiro turno. Mas além da distância de quatro meses que nos separam da fotografia que será definitiva, a dianteira folgada do petista forçará uma reacomodação das elites em torno de Bolsonaro, que já estava desenhada mas que se tornará obrigatória a partir de agora para as todas vertentes da direita brasileira.
Sim, os votos do ex-juiz parcial Sérgio Moro já foram encaminhados para o genocida, por mais que a direita lavajatista finja constrangimento. O que os une, antes de Deus, é acima de tudo o combate pela manutenção do modelo econômico excludente e a Lula.
A saída do meliante da toga, gerada por absoluta penúria de votos, ressalte-se, de certa maneira ressuscitou a grande concertação da extrema-direita e direita convencional que testemunhamos na disputa presidencial de 2018.
Sobra a última tentativa da direita tradicional, a de levantar do túmulo político a candidatura de Simone Tebet, mais um exemplo de como os que estiveram com Bolsonaro em 2018 tentam fazer cara de paisagem diante do desastre de que foram cúmplices.
Tebet não deve emplacar e, forçosamente, a direita irá embarcar na campanha do genocida, com ou sem dissimulação, dependendo da cara de pau de cada um. O privilégio para os ricos e a entrega do patrimônio estatal para estrangeiros unem a turma.
Assim, a sucessão presidencial guarda muitas variáveis ainda (haverá tentativa de golpe, a mídia jogará sujo mais uma vez contra Lula, Bolsonaro pode ou não decretar novos auxílios eleitoreiros e quais seus efeitos, o alcance das Fake News etc.) para se fiar na garantia de triunfo de Lula no primeiro turno.
E a vizinha Colômbia está aí para nos ensinar. Gustavo Petro, o candidato presencial da esquerda, passou vários meses da campanha alardeando uma possível vitória na primeira rodada e agora terá que enfrentar um segundo turno muito difícil e o anticlímax provocado por sua expectativa equivocada.
Lula com certeza já está no segundo turno. Essa é a única avaliação sensata do quadro eleitoral. Seu piso eleitoral para 2 de outubro é de 40%. Daí para o provável mais, é possível que atinja o sonhado 50% mais um voto, mas não convém trabalhar com a hipótese mais otimista.
Nunca, no período posterior à redemocratização, o Brasil viveu uma eleição tão importante. O que está em jogo é a Democracia. Imagine-se o que aconteceria com o País se o fascismo fosse legitimado com a chancela das urnas…nunca houve hora pior para se considerar um jogo vencido antes de ele acabar.
Definitivamente, não é hora de salto alto. O momento é gastar calçado nas ruas de terra e asfalto, nas vielas e becos, para explicar à população de miseráveis excluídos de acessos mínimos que há uma possibilidade viável de superar o horror social em que esses compatriotas foram confinados por um governo genocida.