Por Carlos Eduardo Alves, jornalista, Bem Blogado
Fora de nossos desejos, sonhos e cotidiano, milhões de brasileiros continuam se alimentando de notícias, falsas ou verdadeiras, através de TVs e rádios.
O tema mídia e sua influência na formação das opiniões pública e política provoca sempre interesse entre os que militam no campo progressista. Recentemente, uma declaração do ex-presidente Lula sobre regulação do setor iniciou nova polêmica, com muita gente boa apontando conveniência ou não de abordar a questão no atual momento do Brasil. É uma discussão complexa, que não será avaliada aqui. O objetivo agora é tentar, só tentar, jogar um pouco de luz sobre o tamanho real dos veículos de comunicação no jogo político brasileiro.
Sim, é verdade que os veículos impressos sofrem um constante e irreversível processo de esvaziamento. Atesta-se esse apequenamento em números. A circulação de jornais e revistas é cada vez menor e a compensação, que se daria no aumento de assinaturas e leituras digitais, não anda na mesma velocidade.
Não se pode desprezar totalmente o peso dos impressos, já que muitas vezes ele ainda pauta o noticiário de TVs e rádios, mas os jornalões hoje já não elegem ninguém, ao contrário do que ocorria até poucos anos atrás. Mas o mesmo não se aplica a outras mídias.
Apesar do verdadeiro horror que TVs, principalmente, e rádios despertam entre muita gente do setor popular, não se pode brigar com a realidade. É a TV que continua sendo a fonte primária de informação ou desinformação da imensa maioria dos miseráveis e pobres brasileiros. Sim, é no Jornal Nacional e outros que milhões sabem, ou não, das coisas que acontecem. Não é nas redes sociais, ainda distantes do cotidiano dessa multidão.
Uma vez, um amigo perguntou-me por que eu assistia o JN. A resposta na ocasião permanece válida. “Sei que a verdadeira informação não está no Jornal Nacional, mas é preciso saber que tipo de doutrinação o povo recebe”.
É isso, é difícil argumentar com alguém sem saber que tipo de estímulo ele recebeu para formular sua opinião. Resumindo grosseiramente, é preciso conhecer as armas do inimigo para melhor combatê-lo.
O mesmo se aplica ao rádio. Nos fundões do Brasil, o rádio ainda é importante. É o difusor da mensagem para o parente que mora na roça e também do recado dos senhores que mandam. O matuto continua com o radinho ligado, ao contrário do que imaginam o cenário resumido ao monopólio das redes sociais.
Não à toa que os mercadores religiosos investem cada vez mais em TVs e rádios. É ali que fidelizam o exército de crentes e monetizam a “salvação”.
Existem alguns aplicativos que permitem ao cidadão acessar rádios de qualquer cidade brasileira desde o telefone celular ou computador. Convido o leitor a uma visita a um deles.
Dificilmente quem vive unicamente na bolha das redes sociais não ficará surpreso. Desde os maiores até os menores municípios, são milhares os prefixos que são mantidos por Igrejas e oferecem programação religiosa 24 horas por dia. No olhômetro, dá para achar que já são maioria no dial. Se existem é porque têm quem as ouça.
As redes sociais tiveram, é verdade, papel talvez decisivo na eleição de Bolsonaro em 2018. As fake news foram disseminadas a rodo e, todos sabemos, é a principal ferramenta, junto com a ignorância promovida pelos pastores picaretas, da manutenção do ainda expressivo apoio ao governo fascista.
Darão muito trabalho em 2022. Eles definitivamente não têm recato algum na divulgação de delírios e propagação da realidade paralela. Mas não andam sozinhas no caminho da impostura.
A discussão sobre regulação ou não da mídia terá que ser travada obrigatoriamente pelo governo que sairá das urnas de 2022, mas não é questão imediata.
É importante o campo popular não enxergar um País que não existe ainda. Fora de nossos desejos, sonhos e cotidiano, milhões de brasileiros continuam se alimentando de notícias, falsas ou verdadeiras, através de TVs e rádios.
Você pode não gostar disso, mas não pode brigar com o fato.