Interessante é o dado de que a percepção da população em relação à economia melhorou – e isso sem torturar os dados ou usar oscilação.
Por Eliara Santana, compartilhado de GGN
Em 2025, estamos assistindo à consolidação de uma ação sistemática da imprensa para derreter Lula, usando para isso, entre outras estratégias, o silenciamento dos feitos do Governo e o pesquisismo sem fundamento e irresponsável. E isso pode ser, de novo, um enorme tiro pela culatra. E por que digo isso? Porque a recente pesquisa Quaest (divulgada hoje, 5 de junho) para medir a popularidade do presidente sinalizou duas coisas que me pareceram muito interessantes – e já adianto que não sou especialista em pesquisa eleitoral nem cientista política. Mas sigo dando alguns pitacos.
A pesquisa mostrou apenas oscilações nos índices de popularidade do presidente em relação à sondagem feita em março/abril, mantendo a trajetória de queda estacionada – os que desaprovam o presidente eram 56% em março, e somam 57% agora. Lembrando que a sondagem foi feita no calor dos humores muito negativos em relação ao escândalo do INSS, evento que foi violentamente jogado no colo do Governo por essa mesma imprensa. Muito bem.
Em 2018, a imprensa tradicional apoiou a eleição de Jair Bolsonaro – alguns grupos com mais entusiasmo, outros com menos, mas todos apoiaram Jair, fizeram vista grossa a Moro e seus asseclas, trataram de esconder Lula e precarizar a candidatura Haddad. A aposta, à época, era de que o agora inelegível seria facilmente controlável por ser tosco e idiota. Assim pensavam. Deu no que deu.
A primeira delas é o dado de que a percepção da população em relação à economia melhorou – e isso sem torturar os dados ou usar oscilação. O percentual dos que achavam que a economia está ruim caiu, de 56% em março, para 48% agora; também caiu o número de pessoas que afirmam que os preços dos alimentos subiram – era 88% em março, agora é de 79% agora; e em relação ao preço da gasolina, a percepção de alta caiu de 70% para 54%. Citando esses dados, eu quero chamar atenção para um detalhe: a mídia boicotou reiteradamente, dia a noite, as boas notícia de economia, e quando há divulgação, OMITE INTENCIONALMENTE o sujeito responsável, ou seja, o Governo Lula. Portanto, creio que esses resultados são muito significativos, pois emergem para além do boicote.
A segunda coisinha interessante é algo ainda não tangível mas já posto pela projeção feita pela pesquisa para o hipotético segundo turno. A pesquisa não projetou primeiro turno. Muito bem, foram testados oito candidatos da chamada “direita” concorrendo contra o único que está no páreo de verde, que é Lula. Nesse cenário hipotético, ele empata com cinco, bem na margem de erro, e vence três. São oito nomes para especular qual se sairia melhor. E aí é que está o pulo do gato. Porque essa profusão de candidatos empodera o clã Bolsonaro – especialmente Michelle, a falsa, e Dudu Bananinha – e dá poderes de decisão e influência a Jair Bolsonaro, que não anda lá muito satisfeito com o pupilo Tarcísio, o cínico. Pupilo do qual a mídia quer porque quer apagar o passado bolsonarista para colocar como candidato da terceira via ou algo que o valha. Mas essa estratégia encontra dificuldades, porque o moço não tem pulso e coragem para romper com Jair. E Bolsonaro sonha com alguém do seu clã, de preferência Dudu, para dar continuidade ao seu poder sobre a extrema direita brasileira. Se Jair bater o pé exigindo um nome do clã, empolgado com as últimas “pesquisas” encomendadas, haverá racha, não união na extrema direita. E todos nós já sabemos que Jair tem uma enorme capacidade de bater o pé e fazer o que bem entende quando bem quer. O protagonismo do inelegível não está encerrado, apesar de alguns resultados ruins nos últimos tempos. O Seminário de Comunicação do PL foi um exemplo disso. O evento, com apoio da Meta e da Google – apoio bem ativo, com oficinas sobre IA e usos da tecnologia – foi encerrado por Jair, que foi muito aplaudido. Portanto, tem voz de comando e faz arruaça.
Trocando em miúdos: a selvageria midiática na desconstrução de Lula, visando à sua retirada do páreo político-eleitoral em 2026, pode ser mais um enorme tiro pela culatra nas intenções político-econômicas da imprensa corporativa brasileira. É bom abrir os olhos.
Eliara Santana é jornalista, doutora em Linguística e Língua Portuguesa, com foco em Análise do Discurso. Ela é pesquisadora do Observatório das Eleições e integra o Núcleo de Estudos Avançados de Linguagens, da Universidade Federal do Rio Grande. Coordena o programa Desinformação & Política. Também Desenvolve pesquisa sobre desinformação, desinfodemia e letramento midiático no Brasil.