O plágio do Pato

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A Fiesp usou um pato de plástico para escamotear a enorme sonegação no Brasil. Com a desculpa de que a carga tributária é muito alta, disseminou campanha contra impostos, mas que na verdade vende a falsa ideia de que sonegar não é crime. Ao presidente da Fiesp, Paulo Skaf, uma música depois desta notícia de que, além de tudo, o pato é fruto de um plágio.

O Pato, de Vinicius de Moraes e Toquinho
Lá vem o pato
Pata aqui, pata acolá
La vem o pato
Para ver o que é que há

O pato pateta
Pintou o caneco
Surrou a galinha
Bateu no marreco
Pulou do poleiro
No pé do cavalo
Levou um coice
Criou um galo

Comeu um pedaço
De jenipapo
Ficou engasgado
Com dor no papo
Caiu no poço
Quebrou a tigela
Tantas fez o moço
Que foi pra panela

Artista holandês acusa Fiesp de plagiar pato amarelo




Reproducao Image captionPato desenvolvido por artista holandês, que acusa a Fiesp de plagiá-lo

O artista plástico holandês Florentijn Hofman acusa a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) de plagiar, em sua campanha contra aumento de impostos chamada “Não vou pagar o pato”, a obra Rubber Duck(ou pato de borracha), exposta em São Paulo, em 2008, e em cidades como Amsterdã e Hong Kong.

A BBC Brasil entrou em contato com a fábrica de Guarulhos (SP) que produziu a obra para o artista holandês em 2008 e descobriu que se trata da mesma que tem produzido os patos em contrato com a Fiesp.

Denilson Sousa, dono da Big Format Infláveis, reconheceu que empresa produziu os dois patos e disse que a Fiesp enviou uma foto da obra do artista como “referência”, mas que “nem sabe mais se tem o projeto de Hofman”.

À BBC Brasil, a equipe de Hofman afirmou que a Fiesp transformou o projeto artístico original em uma “paródia política” e que o uso do desenho é “ilegal” e “infringe direitos autorais”.

Pato é testado na cidade de Guarulhos, na Grande São Paulo

Procurada pela reportagem, a Fiesp negou as acusações de plágio e afirmou que a inspiração para os patos foram “patinhos de banheira”, sem confirmar se enviou ou não o projeto holandês como referência.

“O que foi dito (pela fábrica) para a gente é que este é um projeto novo”, diz a área de comunicação da Federação. “Nós não nos inspiramos no artista. Nos inspiramos nos patinhos de banheira, que estão em todo lugar. Este projeto é da campanha ‘Não vou pagar o pato’.”

A Fiesp alega ainda que o pato da campanha difere da obra do artista “nos olhos, no pescoço e na base” e que a “patinhos amarelos como o da campanha estão em qualquer lugar”.

Desenho e especificações

Segundo o dono da fábrica, o novo projeto foi “inteiramente desenvolvido” pela Big Format. “Eu não colocaria nossa reputação em jogo”, diz Sousa. “Temos experiência e este é um projeto muito simples. Por que não perderíamos quatro horas para fazê-lo?”, pergunta.

O artista contra-argumenta: “A resposta da Fiesp é com certeza uma cortina de fumaça. É exatamente o nosso desenho e nossas especificações técnicas. Alterar os olhos não muda a nossa concepção técnica de formato do corpo e bico”, procede a equipe do artista.

Presidente da Fiesp, Paulo Skaf, ao lado de pato durante protesto em Brasília

Em reportagem publicada no site da federação, Paulo Skaf (PMDB-SP), presidente da Fiesp, diz que “este pato representa a indignação das pessoas”.

“O povo brasileiro é um povo do bem. O pato, com este olhar de paz, é a forma brasileira de protestar”, prossegue.

Na última terça-feira, coincidindo com a saída do PMDB do governo, a Fiesp instalou 5 mil “minipatos infláveis” na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, em frente ao Congresso Nacional.

O protesto critica a carga tributária do país, acusa o governo de má gestão e corrupção e pede o impeachment da presidente Dilma Rousseff.

Vetor

O artista holandês criticou o uso político do pato. “Se você estudar e entender esta obra, verá que é feita para ser um projeto não político. É isso que enfatizamos e esperamos que você perceba que eles mataram o espírito da obra.”

A BBC Brasil apurou que o projeto da obra foi enviado pelo artista para a fábrica na Grande São Paulo em setembro de 2008.

Campanha foi veiculada também em anúncios de jornais

O arquivo enviado é o projeto vetorial do pato – que permite sua reprodução em qualquer tamanho.

Também na última terça, a campanha do pato foi reproduzida em anúncios de 14 páginas no primeiro caderno de jornais de grande circulação no país.

“Somos milhões de empregos e bilhões de reais em impostos”, dizia o título. “Chega de pagar o pato. O Brasil tem jeito”, concluía a mensagem.

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