Por Washington Luiz de Araújo, jornalista –
Antes de 2014, uma parcela da população brasileira já pensava e praticava, mas não falava como racista, xenófoba e homofóbica. Mas já um dia após as eleições de Dilma Rousseff, pessoas do chamado sul maravilha foram colocando as manguinhas de fora, tachando os nordestinos como “burros”, ignorantes, analfabetos, por terem votado na mulher que em seguida foi deposta de forma ilegítima. Depois disso, o Brasil nunca mais foi o mesmo. Com a proliferação das chamadas redes sociais, uma verdadeira caixa de abelha, estas pessoas deixaram a hipocrisia de lado e começaram a se manifestar com preconceito e ódio. Mas não só na Internet começaram a mostrar suas garras contaminadas, pois nas ruas, nas lojas, nos aeroportos estão à solta.
Aqui neste blog, recentemente, foi contada a história de Enio Squeff, jornalista e artistas plástico que estava com o filho, negro, no Shopping Higienópolis, São Paulo, quando uma moça da segurança do local perguntou se aquela criança o estava incomodando. A funcionária do estabelecimento, negra, foi informada por Enio que aquela criança era seu filho e este deixou claro que esta só estava sendo confundida com alguém que pudesse incomodar um cliente por ser negra. Mil pedidos de desculpas, mas na Internet vários comentários deram contra de que este tipo de perseguição é normal naquele shopping.
Noticiamos também uma outra dor, do tipo que dificilmente sai nos jornais, mas foi contada pelo site Ponte Jornalismo. A repórter Luiza Sansão relatou a tragédia em uma família da comunidade da Pavuna, no Rio, que teve o filho assassinado por um sargento da PM. Com um só tiro, pelas costas, o sargento matou dois jovens que estavam numa moto. Policial se defende, dizendo que atirou porquê um deles portava um macaco hidráulico que lembrava uma arma de fogo. Gilberto e Márcia, pais de um dos jovens, Thiago Guimarães Dingo, aguardaram um ano e sete meses para o início do julgamento, que, pelo visto, vai longe.
Uma pergunta: fosse num bairro de classe média alto o policial atiraria antes de verificar que macaco hidráulico não é fuzil? Gilberto cobrou do PM: “Perguntei: ‘você fez seu procedimento de pedir para encostar? Revistou os dois? Revistou a moto? Pediu documento dos garotos? Por que você fez isso?’. E ele riu, com ar de deboche”, recorda, com indignação”, relata o site.
Preconceito é o nome do que leva um policial, que deveria ser experimentado, a matar inocentes. Preconceito que vem no bojo da violação ao Estado de Direito, que vitimiza não só quem frequenta luxuosos shoppings, mas também ruas sem asfalto e até aviões.
Aqui neste blog, demos espaço à professora de urbanismo da Universidade Federal Fluminense, Lúcia Capanema, que presenciou num voo da Avianca. Brasília/Rio, um suposto agente da Polícia Federal interpelar, sem se identificar, passageiro numa aeronave repleta de dirigentes e militantes do Partido dos Trabalhadores, voltando de um congresso partidário. Interpelou e não obteve uma resposta sobre quem era o chefe daquele grupo. Sem resposta, se trancou com piloto e co-piloto do avião na cabine de comando e só saiu de lá depois de uns oito minutos. Saiu para que o avião decolasse.
Na chegada do voo no Rio, Lúcia Capanema ficou mais espantada ainda ao ver que um dos comissários de bordo gravava com o celular todos os passageiros. Cobrou isso e teve a resposta de que o ato se deu a mando do agente da Polícia Federal que esteve no avião antes da decolagem. Autoritarismo, arbitrariedade.
Também contamos, via o site Justificando, que “uma mulher transexual internada à força em uma clínica psiquiátrica, por ordem da própria mãe, obteve o direito às medidas de proteção previstas na Lei Maria da Penha. O pedido foi formulado pela Defensoria Pública do Rio de Janeiro ao Juizado de Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher de São Gonçalo, onde a vítima reside com a sua companheira. Pela decisão, a mãe, que não aceita a identidade de gênero e a orientação sexual da filha, está proibida de se aproximar dela dentro de um raio de 500 metros.”
Ficaríamos aqui horas e horas teclando histórias escabrosas de todo o tipo de preconceito. O cenário é de dúvidas sobre onde chegaremos com tanta intolerância, mas só há uma certeza: a maioria dos casos são provindos de fascistas, que se sentem num clima de impunidade para exercerem suas agressões.