o preconceito disfarçado em gentileza

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Cena 1:




“Olha aí”… 

Um gesto com a mão, um sorriso…

Foi assim que o jornalista reagiu reagiu ao ser surpreendido, durante a sua análise, com a entrada da “faxineira”…

Cena 2:

O âncora, apresentador do programa Em Pauta, da Globonews, respondeu:

Então… deixa eu só… É uma moça que entrou para me ajudar, mas não tem problema, a gente já pediu para ela chegar um pouquinho para o lado, ali, que a gente está no ar.”

Tudo aconteceu ao vivo, na noite de 8/7/2024, fugindo ao controle do “padrão Globo de qualidade”.

Sim, faltou qualidade da informação, não pela entrada da trabalhadora em cena, enquanto o programa estava no ar – com certeza alguém deixou fazê-lo e outro alguém não percebeu e não redirecionou as imagens-, mas a maior falha, de informação e respeito, foi o ancora chamá-la de “moça”.

Para mim, que trabalhei no sindicato representativo, foi uma falha grave do jornalista.

Não, não se trata da “moça” da limpeza que ajuda, mas de uma profissional de um segmento econômico importante para a sociedade.

Trabalhadora que estava em horário de trabalho, uniformizada, com os seus equipamentos (EPI e trabalho).

Estava desempenhando a função para a qual foi contratada, muito possivelmente por uma empresa terceirizada, mas como não tenho esta informação, pode ser funcionária, como os colegas que participavam no estúdio ou virtualmente.

Chamar uma trabalhadora de “moça” é um desrespeito.

São centenas de milhares de profissionais do Asseio e Conservação, que soma limpeza de ambientes públicos, institucionais, privados. Trabalhadores que desempenham funções diversas (banheiristas, controladores de acesso, copeiros, limpadores de vidros dentre outras), que podem ser contratados ou prestadores de serviço. 

Uma categoria laboral que exerce funções essenciais (inclusive trabalharam durante o isolamento social consequente da pandemia da Covid-19) e têm representação de classe.

Durante a convivência, como jornalista sindical, testemunhei que apesar de estarem inseridos na base da pirâmide, têm importante papel econômico na sociedade, mas, sobretudo, os considero agentes ambientais e de saúde. 

A maioria são mulheres, arrimo de famílias, mas também homens. A maioria de pele preta, mas também de diferentes etnias. A maioria migrantes, tanto interno como externos. A maioria em idade laboral, mas também inúmeros idosos.

Eles limpam a sujeira alheia.

São invisibilizados, como mostrou o flagrante ao vivo e a cores.

Como ensinou Maria:

Com o seu trabalho limpam a sujeira dos outros.

Por onde passam:

Não deixam rastros (da sujeira alheia).

Mais respeito.

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