O prefeito de São Paulo e sua consciência

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Padre Júlio Lancellotti mostra o que o prefeito Ricardo Nunes parece querer esconder

Por Adriana do Amaral, jornalista




Dois cidadãos brasileiros sucumbiram às madrugadas geladas na mais rica cidade brasileira. Um no sábado e outro no domingo. O primeiro tinha 47 anos e chamava-se Adriano Paulino, o segundo chamava-se Moisés. As mortes resultam da total falta de competência da prefeitura municipal de São Paulo para acolher e desenvolver políticas protetivas e emancipatórias para as mais de 42 mil pessoas em situação de rua que resistem às adversidades na capital paulista.

Desde o início da pandemia de Covid-19, padre Júlio Lancellotti combate pontualmente à falta de assistência e iniciativa pública. 

O ex-prefeito Bruno Covas (PSDB), morto em consequência de um câncer, em maio de 2001, muito timidamente lançou ações isoladas e incipientes de cuidado, como raríssimos banheiros públicos e distribuição de alimentos e vacinas. Desde que assumiu o cargo, Ricardo Nunes (MDB) pouco aparece e quando isso acontece escorrega nas ações voltadas à miséria do povo.

A Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social divulgou, equivocadamente, no domingo, Nota Oficial “culpando” Adriano Paulino da própria morte. De acordo com o documento, “o homem não aceitou acolhimento e foi entregue a ele um coberto”. Simples assim.

Eu pergunto: numa das madrugadas mais geladas do ano como o homem, pouco antes de sucumbir ao frio, poderia pensar? Estaria consciente? E os agentes aquecidos, não quiseram pensar por ele?

Na homilia da missa de domingo de manhã, na Paróquia São Judas Tadeu, em São Paulo, o pároco da Pastoral do Povo da Rua questionou: quando uma mãe pergunta ao filho doente se ele quer sopa e ele responde não, o que ela faz? Aceita, mas fica por perto, cuidando, e depois pergunta novamente até ele se alimentar. 

Justificou ainda que quando uma pessoa é acolhida nas ruas ele é levado por poucas horas para um abrigo distante e liberado poucas horas depois, sem opção senão voltar para as ruas.

No passado recente, o prefeito de São Paulo usou de um artifício legal para aprovar um projeto de lei substituindo um texto anterior para aprovar, em “ritmo de caixa”, a construção da Vila Reencontro, destinada aos sem teto. Um mês depois, as primeiras unidades de casas modulares foram construídas nas proximidades de uma área de descarte de lixo.

Enquanto espera confiante a aprovação da lei que leva o seu nome (448/2021), aprovada por unanimidade da CCJ –Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados, em agosto, o padre Júlio não descansa. Diariamente, além de alimentar e dar carinho e atenção aos “fracos e pequenos”, ele denuncia a aporofobia (ódio aos pobres), fotografando e divulgando práticas urbanas ostensivas que dificultam o Povo da Rua descansar ou dormir nas ruas e calçadas devido aos obstáculos físicos.

O Observatorio de Aporofobia Dom Pedro Casaldáglia (http://www.aporofobia.com.br/) registra o ódio materializado e as imagens são a a prova de que há muito ódio a ser transformado em amor até que as grades sejam substituídas por flores, como ele fez na Paróquia São Miguel Arcanjo.

Padre Júlio luta para acolher, promover e principalmente mobilizar a sociedade local, nacional e internacional sobre o descaso com as pessoas em situação de vulnerabilidade em São Paulo e Brasil. É o santo brasileiro que, em carne e osso, faz o milagre da multiplicação dos pães acontecer.

Foto de autoria de Adriana do Amaral, de uma área na Cracolândia/SP.

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