O prêmio ao menino mimado que arruinou o Brasil

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Por Walter Falceta, compartilhado de Construir Resistência

Aécio Neves, ao contrário, teve pouquíssimo contato com o batente de verdade. Segundo o avô, Tancredo, o menino era um surfista. E com razão. Era um garotão da elite, preguiçoso e que nunca foi apegado aos livros. Academicamente, era tido como medíocre.




Frequentemente, a gente ouve gente da direitalha afirmando que Lula nunca trabalhou, ainda que existam prova irrefutáveis de que o sujeito tenha sido engraxate, ambulante, ajudante de tintureiro, metalúrgico, líder sindical e o mais trabalhador dos presidentes brasileiros.

Em 1976, para fugir das cobranças, arranjou um emprego de vendedor numa concessionária da FIAT. Mas foi uma passagem relâmpago pelo mundo do trabalho de verdade.

Meses depois, foi nomeado oficial de gabinete do Conselho Administrativo de Defesa Econômica, por intercessão do outro avô. Daí para frente, foi nomeação atrás de nomeação. Secretários de Tancredo, trabalhava nas lacunas da extensa agenda de diversões.

Playboy que visitava obsessivamente o deserto, voltava sempre empoeirado. No aeroporto, o que prosperava era o comércio de farináceos. Mesmo assim, a mão pesada da lei nunca pousou sobre seu ombro.

A mesma operação que condenou Lula sem prova nenhuma acabou por inocentar Aécio com as provas todas. Para quem não lembra, Carlos Alexandre de Souza Rocha, um dos funcionários do doleiro Youssef, afirmou ter feito uma entrega de 300 mil pilas para um dos executivos da UTC, e assegurou que a soma era destinada a Aécio Neves.

A investigação sobre as propinas pagas no esquema de Furnas nunca foi para frente. Um diretor da Odebrecht garantiu que havia um esquema de corrupção no governo de Minas. Também não deu em nada.

E passou impune a perseguição a jornalistas mineiros, operação que durou anos e misturou censura e ameaças típicas do gangsterismo.

De outra parte, a imprensa passa-pano sempre fingiu não ver as traquinagens do mocinho representante das elites. Desconsiderou o murro na cara da namorada, em festa VIP, assim como vídeo em que o nobre político aparece cambaleando, embriagado, na alta noite do Rio de Janeiro.

Em 2017, todo mundo ouviu a gravação em que o eterno surfista pede 2 milhões de reais a Joesley Batista. O recebimento da bufunfa foi gravado em vídeo e descobriu-se que o dinheiro foi depositado em uma empresa do senador Zeze Perrella.

O ajudante laranja da operação era um primo, tão considerado que poderia ser morto depois para apagar as pistas do delito. Pois é, nem isso tudo deu em alguma coisa. Aécio, o menino peralta do Brasil, foi absolvido mais uma vez.

Mas estes não são seus maiores delitos. Mesmo apoiado pelo alto empresariado e por grandes corporações de mídia, Aécio perdeu eleição de 2014. Perdeu e, cuspindo na democracia, não aceitou o resultado, dando o pontapé inicial no golpe que enterraria o Brasil no fascismo, no desmonte das políticas públicas e no desastre econômico.

A sentença hoje comemorada por Aécio mostra a cara do Brasil e de seu viciado sistema de desvirtuamento da Justiça. É mais um prêmio, bizarro e afrontoso, ao menino que arruinou o Brasil.

Walter Falceta é jornalista e um dos fundadores do Coletivo Democracia Corintiana (CDC)

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