O problema da direita tradicional

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Carlos Eduardo Alves, jornalista – 

Se é verdade que o nó Lula paralisa as articulações no campo das esquerdas enquanto durar a indefinição se o deixarão concorrer ou não, existe outro drama, talvez até mais grave pela falta de um candidato presidencial com votos, na direita tradicional.

Primeiro, vamos delimitar interesses. E, com isso, combater o simplismo político. Jair Bolsonaro não é o candidato da direita estabelecida há décadas no Brasil. O milico é da extrema direita, do fascismo. Não é verdade que seja o homem dos grandes grupos econômicos, do mercado, das grandes empresas de comunicação. Não.




O que a elite busca é um representante que vista a roupa sempre usada pelos tucanos e assemelhados. Para dar um exemplo prático, recorra-se ao que rolou na última eleição francesa. Não foi o fascismo de Le Pen que arrebatou o conservadorismo, mas Macron.

Bolsonaro é o candidato de, infelizmente, jovens desinformados e de setor expressivo de uma classe média ignorante e raivosa. Quem manda no dinheiro enxerga o perigo de lidar com um analfabeto político que seja legitimado por voto.

A elite conhece a História também e sabe como termina essa equação trágica. O problema, para eles, é que até agora não se vislumbra um nome palatável para a urna nacional.

O que hoje parece mais plausível, parece apenas, é que Geraldo Alckmin caminha para consolidar sua postulação. O problema, para eles, é que o governador paulista não mostra vitalidade eleitoral. Se for candidato, será na base do se não tem tu, vai tu mesmo.

Como Política não é Ciência Exata, é bom lembrar que Alckmin nunca teve carisma e mesmo assim transformou São Paulo no Tucanistão. Mas que é difícil de carregar numa disputa nacional, isso é mesmo.

O mais provável é que continue a busca de um candidato falsamente “novo” para tentar perpetuar a velha e alarmante desigualdade social. A ridícula vassalagem em torno de Luciano Huck prova que Alckmin não é o concorrente dos sonhos da chamada direita cordata.

Mesmo a anunciada desistência do apresentador global deve ser encarada com desconfiança. Se nenhum concorrente daquele campo se mostrar viável, Huck voltará “atendendo ao clamor geral”. É a mesma turma que se encantava por Doria, aquele que pecou por ejaculação política precoce.

Nos próximos dias, outros balões serão lançados. O mais perto atende por Joaquim Barbosa. Mas nem isso é fácil. Apesar de navegar nas águas calmas que os meios de comunicação lhe reservaram, Barbosa é considerado de temperamento difícil e não há ali a garantia de que seria facilmente manejado pelo clube da bufunfa. Se apertar, sobra aval para Marina Silva, mas só se apertar muito.

Outra trilha previsível é a que aponta, para a direita, a necessidade de começar a bater em Bolsonaro, que hoje rouba votos que nas últimas eleições estavam temporariamente hospedados no PSDB. Ninguém pode afirmar com certeza se o fascista está só inchado com apoios que podem voltar aos tucanos ou se o caminho da adesão ao ignorante não tem volta. De qualquer maneira, não há como a direita tradicional crescer sem esvaziar a extrema direita.

E o campo popular com isso? A eleição presidencial de 2018 apresentará vários desafios para as esquerdas. O maior deles, obviamente, é ter que trabalhar com os cenários com ou sem Lula. Mesmo com essa dificuldade imensa, porém, a luta política relevante já apresenta duas tarefas.

É preciso combater sem trégua as ideias primitivas, simplórias e perigosas de Bolsonaro. Passou da hora de levar sua candidatura como uma brincadeira. É ameaça séria para a Democracia. Um ignorante com 20% das intenções de voto é risco.

Também é necessário o enfrentamento com os golpistas que tentam viabilizar um postulante para aprofundar o açoite em direitos sociais alvejados pelo Deus mercado. Se até agora não houve mobilização popular suficiente para barrar o avanço sobre garantias mínimas para os pobres, a eleição tende a ser a última barreira de resistência. Hora, pois, de parar com picuinhas e ver que o jogo é decisivo e próximo.

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