Publicado no Jornal GGN –
Jornal GGN – Informações do ex-diretor da área Internacional da Petrobras e um dos primeiros delatores da Operação Lava Jato, Nestor Cerveró, voltaram a ganhar destaque nos jornais desta semana. Não por constar que o governo de Fernando Henrique Cardoso teria recebido US$ 100 milhões de propina. Menos importante por apontar que o presidente do Senado, Renan Calheiros, teria cobrado presencialmente de Cerveró repasse dos US$ 6 milhões de dinheiro lavado. Mas pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva supostamente ter nomeado Cerveró diretor da BR Distribuidora como reconhecimento por ter ajudado o partido a quitar um empréstimo de R$ 12 milhões, ainda sob investigação.
A capa da Folha de S. Paulo, desta terça (12), traz esse destaque à suposta indicação de Lula em favor de Cerveró, com a maior manchete: “Cerveró liga Lula a contrato investigado pela Lava Jato“. Em seguida, abaixo e menor, outra notícia: “Ex-diretor cita Renan Calheiros“. Só então, mais abaixo e também menor, o título sob o tom hipotético: “Delator fala em propina sobFHC“.
A notícia de que o governo FHC seria o responsável por receber US$ 100 milhões, o equivalente a cerca de R$ 650 milhões atualizados, foi divulgada nos jornais online nesta segunda (06). “A venda da Pérez Companc envolveu uma propina ao Governo FHC de US$ 100 milhões, conforme informações dos diretores da Pérez Companc e de Oscar Vicente, principal operador de Menem e, durante os primeiros anos de nossa gestão, permaneceu como diretor da Petrobrás na Argentina”, disse o ex-diretor aos procuradores, quando negociava seu acordo de delação premiada.
De acordo com Cerveró, o esquema envolveu, ainda, o ex-presidente da Argentina Carlos Menem (1989-1999), que teria se beneficiado com US$ 6 milhões – foi a quantia que seu principal operador, Oscar Vicente, teria embolsado de propina.
Os investigadores aceitaram fechar o acordo de delação com Nestor Cerveró em novembro do último ano. E a mesma quantia – de US$ 6 milhões – apareceu também como o montante a dois destinatários de peso do PMDB: o presidente do Senado, Renan Calheiros, e o senador Jader Barbalho. Em um dos episódios, Renan teria se encontrado pessoalmente com Cerveró, em 2012, quando “reclamou da falta de repasse de propina”, e em outras duas ocasiões.
Mas a novidade que chamou a atenção dos diários foi o uso em uma delação, pela primeira vez,
do nome direto do ex-presidente Lula. De acordo com o delator, Luiz Inácio teria indicado Cerveró diretor financeiro e de serviços da BR Distribuidora, subsidiária da estatal petroleira.
O objetivo, segundo o ex-diretor, era uma forma de recompensá-lo por contribuir para o contrato da Schahin Engenharia com a Petrobras. E o partido do ex-presidente teria uma dívida anterior de R$ 12 milhões com o banco da família Schahin. Assim, “havia um sentimento de gratidão do Partido dos Trabalhadores – PT para com o declarante”, afirma a transcrição da fala de Cerveró.
Em outra situação, o ex-diretor também responsabilizou o então senador José Eduardo Dutra (PT-SE), supostamente a pedido de Lula, pelo esvaziamento da CPI da Petrobras no Congresso em 2009. Dutra, de acordo com o depoimento, tinha “facilidade de diálogo, inclusive com a oposição”, sendo assim chamado para a “missão”.
Na mesma reportagem, a declaração de Cerveró referente a outro investigação destoante e com foco em outro investigado, o senador Fernando Collor (PTB-AL), foi usada porque o parlamentar utilizou o nome da presidente Dilma Rousseff, a fim de garantir sua influência política dentro da BR Distribuidora. “Que Fernando Collor de Mello disse que havia falado com a Presidente da República, Dilma Rousseff, a qual teria dito que estavam à disposição de Fernando Collor de Mello a presidência e todas as diretorias de BR Distribuidora”.
A diferenciação também ultrapassa o espaço na capa e nas páginas da edição da Folha de hoje. A própria linha-fina das três reportagens revelam o tratamento diferenciado. Na que responsabiliza o ex-presidente Lula, incrimina-se, também, envolvimento de Dilma: “Delator afirma ter ouvido de Collor que Dilma colocara direção da BR Distribuidora sob o comando do senador”.
Já a de Renan Calheiros, na página ao lado, a linha-fina apresenta que não foi apenas o senador peemedebista o destinatário da propina: “Delator diz que esquema beneficiou petistas Delcídio do Amaral, Vaccarezza e André Vargas”. Já a de FHC, assim como o título hipotético, tem-se a abstração: “Nas tratativas da delação, Cerveró não apontou os nomes dos beneficiários no governo tucano”.
“Por que tanta diferença no tratamento? A manchete da Folha de hoje não poderia ser “Cerveró cita Lula e FHC em delação premiada”? Além das diferenças grotescas no tratamento das manchetes, no tamanho, no modo de escrever, o texto traz diferenças ainda mais claras. A começar que a sigla PSDB simplesmente não aparece. Nem na capa, nem nas páginas internas sobre o assunto”, criticou o deputado Paulo Teixeira (PT-SP), em sua página do Facebook.
A equipe do parlamentar preparou uma montagem, indicando as diferenças na capa da Folha:
“Ao longo na matéria sobre o tucano, apenas o PT é citado. Não há em nenhuma parte a sigla do PSDB. Na página contra Lula, há cópia da delação premiada como documentação, na de FHC, não.
Quando Nestor Cerveró cita Lula, o jornal escreve: ‘Ceveró disse que o então presidente Luladeu-lhe (afirmativa) um cargo público’. Já quanto ao Fernando Henrique Cardoso, o jornal escreve assim: ‘Cerveró mencionou o suposto (suposição) pagamento de propina’. Lamentável”, disse Teixeira.