Não há sinais sobre como irá atuar sobre os spreads bancários. Mas, sem grandes revoluções, colocará um mínimo de racionalidade no mercado.
Por Luis Nassif, compartilhado de seu Blog
Gabriel Galípolo não é um mero economista de mercado – embora conheça tudo de mercado. Tem um pensamento multidisciplinar, um conhecimento da economia real, do funcionamento do sistema bancários e dos humores do mercado financeiro. Parte do seu multitalento pode ser conferido em uma série de programas da TV GGN Nova Economia.
O ponto de partida para entender como atuará no mercado está em um dos programas que gravou. O desafio é definir para o Real e para o dólar a mesma taxa de risco. Assim, não haverá volatilidade. Portanto, não se espere dele nenhum enfrentamento do mercado, nem mudanças radicais na política monetária.
Sua estratégia será eliminar, gradativamente, as maiores inconsistências do mercado.
Um dos pontos a ser trabalhado é eliminar o poder excessivo de influência do Boletim Focus. O boletim capta as expectativas de um único agente econômico: o mercado. E se baseia essencialmente em expectativas. Sua ideia será construir outras formas de medir expectativas de outros agentes econômicos. Com isso, diluir parte do poder de cartelização da Faria Lima.
Outra estratégia será acrescentar novas maneiras de previsão da inflação. Hoje em dia, o BC e o mercado se baseiam em um método estocástico de previsão da inflação, que tem a pretensão de analisar a incerteza e a variabilidade dos dados econômicos. É a tal planilha do Ilan Godljan – que me inspirou a criar o termo “cabeças de planilha”.
Essa método funciona como um gatilho para o mercado, independentemente do seu pequeno grau de acerto. Quando uma das variáveis se altera, dispara um sinal que faz com que o mercado inteiro siga a boiada. Porque para o mercado o objetivo não é errar ou acertar, mas tentar reeditar os erros ou acertos do BC. Quando mais métodos de projeção da inflação, haverá uma outra redução do poder de cartel da Faria Lima.
Finalmente, proporá para o governo Lula convencer o fundo soberano de algum país aliado a adquirir um bom volume de títulos pré-fixados do Tesouro para levar até o vencimento. Com isso, diluirá o poder da Faria Lima, que detém 90% da dívida do Tesouro, tornando o mercado de taxas longas uma presa fácil para manipulações.
No dia a dia, o BC se tornará muito mais ativo no mercado de derivativos – onde se formam, de fato, as taxas longas de juros. E é possivel que sejam reeditados instrumentos para atuar de forma mais direta sobre oferta e demanda, como reforçar estoques reguladores de alimentos.
Não há sinais, ainda, sobre como pretende atuar sobre os spreads bancários. Mas, sem grandes revoluções, colocará um mínimo de racionalidade no mercado. E terá nos grandes bancos comerciais um aliado relevante. Há enorme resistência dos bancões aos movimentos especulativos de Roberto Campos Neto, que visavam apenas beneficiar operadores de mercado.