O que está acontecendo no caso do infiltrado pelo Exército

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Publicado em Justificando – 

No dia 4 de setembro, durante manifestação ”Fora Temer”, em São Paulo, 26 pessoas foram detidas. Destas, 21 eram  jovens que se reuniam no Centro Cultural São Paulo (CCSP), e foram abordadas pela polícia antes mesmo de o de se encaminharem para o protesto.

O caso acabou se revelando uma infiltração, contra a legislação, de um capitão do Exército, pelo aplicativo Tinder, para agrupar e prender dezenas de pessoas antes que fossem à manifestação.

Para não esquecer: o que está acontecendo no caso do infiltrado pelo Exército

No dia 23 de setembro, o Exército brasileiro admitiu ao G1 realizar “operações de inteligência” permanentes em “manifestações de rua”, porém não tratou do caso específico.




Apesar de ter confirmado à reportagem que era Botelho o homem de óculos, com cabelos compridos e barbado, que aparece em vídeos e fotos na internet sendo detido pela PM junto com outros ativistas, a assessoria de imprensa do Exército em Brasília não respondeu se o capitão estava mesmo trabalhando como agente infiltrado e se estava lá com autorização judicial.

Militar tinha relação com Agentes do DOI-CODI

Em 1970, durante a ditadura militar, os militares que trabalhavam no Destacamento de Operações de Informação – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-CODI) de São Paulo chamavam de paquera a aproximação dos infiltrados com grupos políticos que eram alvos dos militares.

No entanto, a paquera do capitão Willian Pina Botelho, feita via Tinder para se aproximar de “meninas de esquerda” não é a única relação do infiltrando com a ditadura.

De acordo com reportagem realizada pelo El País, Willian Pina Botelho vivia, até setembro deste ano, em um apartamento na avenida Brigadeiro Luís Antônio registrado no nome de Manoel Morata de Almeida, que era capitão do Exército no DOI-CODI de São Paulo durante o regime militar.

Na época em que Almeida ingressou no Exército, final dos anos 70 e início dos 80, o DOI-CODI estava mudando e os ingressantes não tinham envolvimento com a morte, tortura e sumiço de pessoas. Nesta época, a instituição deixou de interrogar e passou a acompanhar movimentos políticos, tratava-se de vigiar muito mais do que punir. É aí que se interligam as histórias do capitão infiltrando no Tinder e um regime militar.

Como foram as prisões na Polícia Civil

O caso não apenas revela problemas graves no exército e na polícia militar, como também na polícia civil. Para entender melhor, é necessário relembrar o episódio.

Cauan Botelho é estudante universitário e um dos jovens presos no CCSP. Ele contou para a Vaidapé tudo que aconteceu, da prisão até o momento em que foram soltos. “Criamos grupos de conversa no WhatsApp de 21 pessoas para conversar, se organizar, manter um controle e proteção durante as manifestações, caso alguém se machucasse”, conta.

Cauan explica que dentro do CCSP eles notaram que os seguranças estavam se comunicando o tempo inteiro, e não demorou muito para que os policiais chegassem apontando armas letais para os jovens.

“Eles nos enquadraram e tiraram fotos dos nossos rostos mais de uma vez. Chamaram policiais mulheres, porque a gente tinha 9 mulheres no nosso grupo, fizeram a revista com elas no banheiro e encaminharam a gente para o DEIC (Departamento Estadual de Investigações Criminais). Uma secundarista foi pega pelo pescoço.”

Os jovens ficaram presos e sem a possibilidade de se comunicar com pais e advogados até as 2h da manhã, quando chegaram o ex-senador Eduardo Suplicy, o deputado federal Paulo Teixeira e o candidato a vereador Nabil Bonduki. Não é a primeira vez que o DEIC foi palco de graves violações aos direitos dos acusados.

O inédito, contudo, é saber por qual razão em tempos democráticos, o Exército infiltra em parceria com a Polícia Militar, agentes para reprimir civis, com posterior violações da polícia civil. Para saber e investigar onde isso vai parar, a pauta não pode ser esquecida.

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