O que fazer com a minha t-shirt favorita?

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Ou melhor, uma das minhas camisetas preferidas?

Por Adriana do Amaral, compartilhado de seu Blog




Minha filha, ainda criança, tinha uma camiseta com os dizeres estampados:

This is my favorite t-shirt.

Em algum momento eu a comprei, e ela vestia para passear, para brincar.

Lembro-me de pessoas comentarem, perguntarem para ela, se realmente era a camiseta favorita dela.

Claro que não. 

Mas era bonitinha: branca, simples, e vestia bem nela.

Esses dias não paro de pensar numa das minhas camisetas favoritas. Eu a comprei num dia muito especial, quando celebrávamos #VitorJara, num local de resistência, em #São Paulo, o #ArmazémdoCampo, junto à comunidade chilena.

Depois, usei-a num congresso acadêmico, sobre migrações.

Minha camiseta trazia um rosto de um homem preto, referência em Direitos Humanos e Cidadania, e parte daquele discurso proferido no dia da sua posse como ministro, que tanto me emocionou:

“Vocês existem e são valiosos para nós…”.

Ao assumir o cargo de Ministro de Estado do governo popular o intelectual, que cunhou o conceito do #racismoestrutural , conseguiu tocar a minha alma. Sobretudo ao dizer que era “fruto de séculos de lutas e resistências de um povo que não baixou a cabeça mesmo diante dos piores crimes e horrores da nossa história”. 

Como eu celebrei aquele dia, histórico, transformador.

Esperancei-me.

O sonho acabou com a realidade cruel

Estava fora do Brasil quando o presidente #Lula demitiu #SilvioAlmeida.

As notícias chegavam com “delay”, próprio do fuso horário, mas na medida em que eu as lias, e me atualizava, mais eu me abalava.

Como assim? Não pode ser… Mas era verdade.

Aquele homem que ganhou a minha confiança e respeito era denunciado por assédio sexual, e não por uma, mas muitas mulheres. Os detalhes, sórdidos, doeram em mim.

Esperava que fosse mentira. 

Ansiei por um argumento sólido. Eu não julgaria sem provas…

Mas, o homem por trás do ministro mostrou-se des(humano) em suas atitudes. Replicou o modelo machista, e até na tentativa de se defender foi arbitrário. Atacou ao invés de se retratar. Sem argumentos, ousou tentar desautorizar a Ong #MeeToo.

O mais triste de tudo isso é saber que nem pessoas próximas, respeitáveis e de certa maneira “amigas” não estarão nunca ilesas de um possível assediador.

Seja moralmente, seja sexualmente, seja emocionalmente.

Eu também já fui vítima de assédios por pessoas que estava próximas, fui vítima de misoginia. Mais de uma vez.

Eu sempre denunciei, e eles, de certa maneira, ficaram impunes. 

Mas, felizmente, a roda do mundo gira e, hoje em dia, a tolerância é cada dia menor.

Como disse outro homem preto, um ativista social:

“Recuamos um século em um dia.”.

É verdade.

O discurso foi tão bonito, com significados tão profundos!

Silvio Almeida parece ter esquecido da própria teoria, mas, com sua prática, mais uma vez, nos deu uma lição.

Não podemos retroceder um passo.

Não apenas para as mulheres, mas para as pessoas pretas, indígenas,  lgbtqiapn+, pessoas com deficiência, trabalhadores. 

Pessoas que continuam sendo valiosas…

Por serem gente.

Não podemos retroceder um passo.

#Machismo #Racismo #Assediador 

Não Passarão.

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