Feliz com as vitórias do PDT no Nordeste, Ciro se apresenta como o candidato da centro-esquerda em 2022. Mas ainda falta combinar com a esquerda.

Com a conquista das prefeituras de Fortaleza e Aracaju e a vitória de suas alianças com o PSB em Natal, Recife e Maceió, o PDT passou a dar como líquida e certa a candidatura de Ciro Gomes à Presidência da República em 2022. Para o presidente do partido, Carlos Lupi, é apenas uma questão de tempo. “Fomos majoritários no campo da centro-esquerda. O resultado mostra que nossa aliança com o PSB é o embrião deste campo para 2022”, afirmou Lupi, ao comentar o bom desempenho do PDT no Nordeste, onde a legenda elegeu 144 prefeitos contra 91 do PT.

Ciro vai além de Lupi e já defende diálogo “da centro-esquerda com a centro-direita” com olhos em 2022, referindo-se ao DEM, que recebeu apoio do PDT em Salvador. Mas, ao mesmo tempo em que joga confetes para a centro-direita, o ex-governador do Ceará continua a bater sem piedade nos partidos de esquerda. Ainda na noite de domingo, ele voltou a comparar o bolsonarismo ao que ele chama de “lulopetismo criminoso e radical”. Portanto, de nada adiantou seu recente encontro com o ex-presidente Lula para aparar arestas.




O PT é o alvo preferencial de Ciro Gomes.  E agora o manda-chuva do PDT também resolveu atirar no governador Flávio Dino, do PCdoB, uma das alternativas da esquerda para 2022. Em entrevista a José Luiz Datena, Ciro cantou as vitórias de seu partido e criticou Dino por não ter apoiado nenhum candidato em São Luís. “Os três candidatos que ele (Dino) sinalizava ficaram fora do segundo turno e ele vai votar com a camiseta ‘Lula Livre’. Essas pessoas perderam a noção da realidade do nosso povo. Ganhou quem soube interpretar com humildade o sentimento popular”.

Depois do ataque, Ciro se desculpou. Disse no twitter que tem “muita estima” por Flávio Dino. E explicou que, apesar de discordâncias pontuais, nada diminui sua vontade “de construir, o mais ampla possível, uma generosa aliança de centro-esquerda que dê suporte a um novo Projeto Nacional de Desenvolvimento”. Dino preferiu não responder, alegando que tem respeito e apreço por Ciro. Mas fez a seguinte advertência: “Partidos como DEM e PSDB estarão com o bolsonarismo, se estiver forte, ou terão projeto próprio em 2022. Eles não pegarão seu capital político e colocarão numa chapa do Ciro. Isto é inviável”.

Como diria Leonel Brizola, ao atacar a esquerda e falar de diálogo com a centro-direita, Ciro Gomes está costeando o alambrado. Ou seja, em nome de suas ambições políticas e do tal ‘Projeto Nacional de Desenvolvimento”, o ex-governador está se afastando da esquerda. E, exatamente por isso, levou uma justa alfinetada da presidente do PT, Gleisi Hoffmann: “ Quem fala demais dá bom dia a cavalo, mas o problema não são as declarações do Ciro, e sim o campo em que o PDT está se colocando. Não vemos essas alianças ao centro, e sim à direita”.

Até as pedras de Fortaleza sabem que Ciro não abrirá mão de ser cabeça de chapa nas eleições de 2022. O PDT pode até negociar com outras legendas, mas a candidatura de Ciro está mais do que sacramentada. O ex-governador será o candidato de “centro-esquerda”, certamente em aliança com o PSB. Resta saber qual será o caminho dos partidos de esquerda. PT, PSOL e PCdoB vão se dobrar ao projeto pessoal de Ciro? Ou vão buscar um nome mais afinado com as lutas sociais e lançar uma chapa que represente, de fato, uma frente de esquerda?

A esquerda tem tempo para tomar sua decisão, mas não custa lembrar uma das imagens preferidas de Brizola. “Se tem rabo de jacaré, couro de jacaré, boca de jacaré, pé de jacaré, olho de jacaré e cabeça de jacaré, como é que não é jacaré?” Ou seja, direita é direita e esquerda é esquerda.