O que nós queremos que você faça sobre os 5.017 mortos por covid-19, presidente

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Por Diego Iraheta, compartilhado de Huffpost Brasil – 

“E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê?” Essa foi a resposta de Jair Bolsonaro ao Brasil bater recorde de mortes diárias, ultrapassar a China e agora ser o 9º país com mais óbitos no mundo.

Jair Bolsonaro lamentou recorde de mortes, mas disse que nada pode fazer a
EVARISTO SA VIA GETTY IMAGES Jair Bolsonaro lamentou recorde de mortes, mas disse que nada pode fazer a respeito.

Caro presidente Jair Bolsonaro,




Sabemos que o senhor é Messias, mas que não faz milagres.

E acreditamos que não cabe neste momento esse tipo de zombaria.

Ontem, passamos dos 5 mil mortos pelo novo coronavírus no Brasil. Superamos a China, o 1º epicentro da covid-19. E agora somos o 9º país com mais óbitos no mundo.

Talvez o senhor não se abale tanto com a aridez dos números. “E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê?”, respondeu, ao ser questionado sobre esse triste recorde de mortes diárias (474) que batemos nas últimas 24 horas.

Já entendemos que o senhor foi eleito também por conta desse “bom humor” que lhe é característico. Mas o momento exige sobriedade.

O momento de luto para as 5.017 famílias que perderam companheiros de vida. Pais, avós, filhos, amigos… Vítimas da covid-19.

Falta-lhe compostura, presidente, para administrar o País em meio a uma pandemia.

Essa percepção não é apenas daqueles que o rejeitam desde a campanha eleitoral de 2018 (ou até antes dela). O último Datafolha mostra que o número de brasileiros que o consideram incapaz de liderar o Brasil subiu de 44% para 49%.

Esse aumento na rejeição ao senhor é consequência da série de atos desastrosos nos quais o senhor vem se envolvendo, sobretudo após o coronavírus chegar ao Brasil.

Sabe o que nós queremos que o senhor faça, presidente?

Primeiro, peça desculpas por estar desrespeitando sistematicamente orientações das autoridades sanitárias do País e do mundo.

O senhor promoveu manifestações, participou de aglomerações, saiu fazendo selfie com geral, cumprimentou seus apoiadores… Testou os limites de sua irresponsabilidade.

Segundo, pare! Pare agora de fazer tudo isso que errou até aqui. Deixe de ir para a rua, nada de sair pegando nas pessoas. Cessou!

Fique no palácio, presidente! No Alvorada, no Planalto… Dê o exemplo!

Já entendemos a defesa do senhor sobre isolamento vertical. Que seria melhor, em sua visão, o confinamento apenas dos grupos de risco, idosos e pessoas com doenças crônicas. É o temor pelo impacto na economia, o senhor argumenta.

Agora, já imaginou se cidades brasileiras como Manaus, Recife, Fortaleza, São Paulo e Rio de Janeiro não tivessem aderido à quarentena? Quantos diagnósticos positivos para covid-19 teríamos hoje nessas localidades que estão entre as mais críticas do País?

O sistema de saúde já está em colapso no Amazonas… Quantas mortes nós contaríamos se mais gente estivesse na rua lá, em Pernambuco, no Ceará?

Terceiro, deixe a ironia de lado, presidente.

Nenhuma “gripezinha” mata 5.017 pessoas em um intervalo de 2 meses.

“Mas é a vida”, retruca o senhor. É a vida, e o senhor é o presidente num país presidencialista, que cultua o chefe do Executivo, que o tem como exemplo e aí o vê na rua, brincando, bradando palavras de ordem contra Congresso e STF, apoiando quem quer a ditadura…

Quantas mortes poderiam ter sido evitadas se, desde a hora 1 do coronavírus no Brasil, o senhor tivesse encarado a crise como um presidente? E não como um mancebo inconsequente?

Se o senhor tivesse demovido militantes da ideia de ir para a rua protestar? Se tivesse persuadido os autônomos num primeiro momento a logo ficar em casa, assegurando a eles o benefício que seu governo demorou para sancionar e pagar?

O senhor não precisava fazer milagre, presidente.

Nós queríamos apenas que o senhor cumprisse com o seu papel. Com o que é esperado constitucionalmente de quem comanda a nação.

Com a curva de contaminações e mortes acelerando em várias cidades brasileiras, conseguiremos ver mudança de agora em diante?

Ou qual saldo de mortes será capaz de sensibilizá-lo a rever essa postura vexatória, presidente?

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