O que será que será? De repente, a velha e sofrida América do Sul sacode

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Por Carlos Eduardo Alves, jornalista, para o Bem Blogado

Equador, Peru e Chile vivem nas últimas semanas conflitos de rua que expõem os dilemas causados pelas políticas neoliberais adotadas nos três países. A Bolívia tem uma vitória em primeiro turno, por pequena margem mas vitória, de Evo Morales e a oposição direitista contesta nas ruas o resultado do pleito. Domingo, dia 27, Argentina e Uruguai foram às urnas: vitória de Alberto Fernnandez  no primeiro  e ida ao segundo turno no segundo país. O que estaria acontecendo no Continente?




Primeiro, com exceção do Uruguai, em que o governo da Frente Ampla deve continuar, e da Bolívia, em que a vitória de Evo Morales e a reação da direita mostram, sim, um país dividido depois da transformação econômica e política à esquerda promovida lá, todos os outros países têm em comum a crescente rejeição ao modelo explorador do trabalho em vigor.

Fixemos o foco, para não dispersar com tanta questão interessante, em Argentina e Chile, o primeiro pela óbvia relevância e o Chile por ser, até a explosão popular de agora, o país que era apresentado como prova do “sucesso” da agenda privatista, o modelo que o nefasto Paulo Guedes quer aplicar no Brasil.

A Argentina, confirmada todas as pesquisas eleitorais, elegue a chapa Alberto Fernandes e Cristina Kirchner. Mais do que os méritos de ambos, porém, politicamente o resultado é uma derrota eleitoral desmoralizante para Mauricio Macri, o direitista convencional que foi apontado pelo mercado e jornalismo da grande mídia brasileira como aquele que resgataria a Argentina da “irresponsabilidade fiscal e corrupção” da “década K” (como nossos vizinhos se referem aos sucessivos governos do casal Nestor e Cristina Kirchner).

O resultado do engodo Macri entrega para administração do peronismo um país destroçado economicamente, com aumento criminoso da pobreza e da indigência, dívida externa impagável e todos os indicadores em situação calamitosa. O experimento neol iberal foi destroçado na Argentina, um país eternamente conturbado mas em que miséria nas ruas, como a que constatamos no Brasil, não era parte do cenário cotidiano.

Alberto e Cristina terão muito trabalho, principalmente em razão de o tecido social ter sido arrasado no país vizinho. Haverá muita dificuldade natural que será agravada pelo incessante combate do Grupo Clarin (uma espécie de Organizações Globo de lá), eternamente a serviço do capital entreguista e submisso aos interesses estrangeiros.

Uma boa gestão peronista na Argentina, dada a sua importância em várias esferas, abrirá caminho para a área progressista em Nações vizinhas. Sempre é bom lembrar, por exemplo, que Alberto Fernandes já visitou Lula em Curitiba e deixou claro seu apreço e respeito pelo ex-presidente.

Chegamos ao Chile, que durante décadas, desde a criminosa e assassina ditadura Pinochet, é apontado pelos Chicago Boys como a “Suíça da América do Sul”. É um país em que a renda média escondia, até as duas últimas semanas, um sistema cruel. Pouca gente sabia, por um exemplo gigantesco, que não existe Educação ou Saúde públicas na terra de Neruda. Paga-se, e endivida-se quem puder, pelos acessos básicos.

A Previdência perversa é a do regime de capitalização que Paulo Guedes, não contente ainda com o que já arrancou da aposentadoria dos brasileiros, quer aplicar aqui. Hoje, mais da metade dos aposentados chilenos recebe no máximo 70% de um salário mínimo, portanto sem dinheiro até para compra de medicamentos que também não são fornecidos pelo Estado. É contra essa “Suíça” que os chilenos lutam nas ruas.

O tema Chile é quase inesgotável. O vulcão estava se formando faz tempo e agora seria até motivo para rir, não fosse a desgraça da população pobre chilena, quando se vê os governantes neoliberais pedindo “desculpas” pela inação proposital diante do quadro campeão de desigualdade.

O desastre do neoliberalismo ainda está em curso no nosso Brasil. A nós cabe, além de torcer para que nossos vizinhos tenham sucesso no combate a esse modelo econômico, lutar aqui e mostrar para quem ainda não enxergou que o mesmo precipício em que foram jogados outros sul-americanos é o que Guedes e o governo de extrema-direita quer nos alojar. Não existe caminho além daquele da recusa ao matadouro.

 

Imagem: cartaz em área de protesto no Chile

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