O Quixote vermelho*

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Por Joel Guimarães, jornalista, Facebook

Tal qual Dom Quixote, ele sonhava. Não com moinhos de vento! E sim, com um Brasil libertário, fraterno e solidário! Uma terra sem amos! Um país em que a terra é de quem nela trabalha . Afinal, todos são iguais. Por isso, no país com que sonhava “ não haveria mais deveres sem direitos e nem direitos sem deveres’’.
E atrás desse sonho ele foi. Lutou a vida inteira para torna-lo realidade.




Para contribuir com a renda da família, aos sete anos de idade ele caminhava com o pai  José Jacinto Correia, um homem pobre negro e cego, pela ruas de Crato, onde nasceu, guiando o pai, pedindo esmolas.(1)

Quando deixou Crato caminhou pelo país lutando o bom combate em favor da reforma agrária, da justiça social e em defesa dos excluídos, em um país em que ontem e também hoje o Deus mercado sempre dá as cartas. Um país onde os senhores da terra exploravam e continuam explorando mais valia: submetiam e submetem ainda hoje em muitas regiões do país-, os trabalhadores a condições semelhantes a escravidão.

Esse homem tem nome: Manoel Jacinto Correia, um dos mais combativos e respeitados quadro do Partido Comunista Brasileiro (PCB).

Por acreditar em seu sonho enfrentou os poderosos, a polícia e o governo. Pagou um preço: preso 17 vezes, foi torturado quase sempre. Os anos que ficou na prisão somados ultrapassam 15 anos de vida.

Jacinto que morava em Londrina, passou pelo menos 10 anos na clandestinidade viajando pelo interior do estado, ficando longos períodos longe da família.

Depois da derrota da guerrilha de Porecatu Manoel Jacinto foi removido pelo partidão para a região de Marilia, interior de São Paulo, onde ficou cerca de três anos.

Nesse período, sua família nunca soube onde ele estava. Três anos se passaram até que sua família vai ao seu encontro em Marília, onde seu nome de guerra era Calixto.

A filha, Elza Correia, conta que sua mãe, Anita Pereira Cezar, viajou para Marília levando com ela seus três filhos maiores-Edna,,Edmilson e ela- que viajaram certas que iam encontrar o pai e almoçariam num restaurante. Não era verdade, a família foi visitar Jacinto em uma penitenciária. “Ele estava mais magro do que sempre, barbudo e chorando, atrás das grades. Essa visão se tornou para mim um pesadelo continuo”-contou sua filha Elza em palestra à AMJC, em abril de 2010.

Mesmo desiludido com o PCB por ter abandonado os guerrilheiros de Porecatu ele continuou no partido até 1966, quando filiou-se ao PCBR justamente por discordar da maneira de agir do PCB.
No início dos anos 1980, filiou-se ao PC do B onde permaneceu até morrer por problemas pulmonares, sequelas das inúmeras prisões quando morreu era corretor de seguros.

Foi vereador em Londdrina- foi eleito nas eleições de 1947 pelo PTB porque o PCB havia sido posto na ilegalidade.
“Eu era muito sectário e talvez eu seja até hoje, No dia da minha posse fui receber meu diploma de vereador. Fiz um discurso dizendo que tinha sido eleito pelo PTB num acordo eleitoral, mas que eu era comunista. Foi um escândalo”, contou ele em uma entrevista.

E o velho comunista deixou um legado para as novas gerações: sonhar é preciso e acreditar que, um dia os sonhos serão realidade é necessário!

P.S: Manoel Jacinto, como você, eu também acredito que um dia este país chamado Brasil será um terra sem amos e sem patrões.

Herdeiros da luta
É nesse cenário que o MST do Paraná rende sua justa homenagem à Revolta de Porecatu, com a construção de um monumento no local onde outrora concentrou o primeiro acampamento de resistência desses camponeses e camponesas na luta pelo direito a terra.

“É aqui, com a memória da luta dos camponeses e camponesas de Porecatu, da qual somos herdeiros/as, que nos inspiramos para seguir como protagonistas da nossas própria história, construindo coletivamente um processo de transformação social e enfrentando o latifúndio”, afirma Ceres Hadich, da direção do MST no Paraná. **

* Com informações do livro PORECATU- A guerrilha que os comunistas esqueceram escrito pelo jornalista Marcelo Oikawa

**Dá página do MST

 

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