Por Carlos Eduardo Alves, jornalista
Preliminar: não gosto de Mandetta. É um velho e até recentemente obscuro politicão da velha direita. Detesta o SUS e representa o conservadorismo anos 50 (para se ter ideia, não se conforma até hoje com a Lei do Divórcio). Jamais se verá no boteco uma faixa de “Fica Mandetta”. Ponto. Mas Mandetta deu um show no longo pronunciamento de agora à noite.
Com elegância e sem citar nomes, destruiu a ignorância de Bolsonaro e sua gangue de burros e picaretas. Apelou à exaustão ao uso da palavra Ciência, defendeu com vigor o isolamento social e chegou até a provocar ao dizer que recusara discutir dentro do Palácio do Planalto a adoção da cloroquina no combate ao coronavírus (consta que Bolsonaro sugeriu um encontro do ministro com uma médica defensora do medicamento).
Declarou que discussões científicas devem ocorrer no Ministério. Óbvio que Mandetta se sentiu fortalecido depois que Bolsonaro não conseguiu demiti-lo hoje. Se não fosse assim, jamais teria dado, embora com destreza e sem citar nomes, tantas porradas desmoralizantes em seu chefe.
Malandro, é possível que amanhã pegue mais leve e dê ao boçal o tratamento de “grande timoneiro”, como fez recentemente. Mas com certeza Mandetta causou ódio ao demente e tropa de jumentos.
Só existem dois caminhos: Bolsonaro está extremamente enfraquecido e, além de não conseguir demitir seu subordinado, vai ter que aguentar a passada de mão na bunda que foi o pronunciamento de Mandetta. Ou Mandetta não dura muito mais. Mas que foi um show de insubordinação, isso foi. Em grande estilo.