O silêncio diante do genocídio

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Israel está promovendo o maior genocídio que o mundo já acompanhou ao vivo e a cores

Por Heloísa Villela, compartilhado de ICL




O silêncio diante do genocídio

Dez soldados cercam um preso, dentro de um centro de detenção. Usam escudos para esconder os rostos da câmera que grava a cena. Eles estupram o preso seguidamente. Internado, ele não conseguia nem andar.

No Parlamento, um representante eleito defende a violência como justificável. Um ministro de Estado chama os soldados de heróis da pátria e reclama do vazamento do vídeo e não da violência. Que país é esse? O mesmo que nos últimos dez dias bombardeou e destruiu ao menos quatro escolas matando mais de 100 pessoas. Sim, esse é o estado de Israel de Benjamin Netanyahu.

Até quando? É a única pergunta possível na minha cabeça. Até o último palestino? O silêncio cruel do mundo sobre o genocídio autoriza novos ataques, com um número de mortos cada vez maior em Gaza.

Como disse a rapporteur [relatora] da ONU, Francesca Albanese, em uma postagem no X: “Gaza: no maior e mais vergonhoso campo de concentração do século 21, Israel está cometendo o genocídio dos palestinos um bairro de cada vez, um hospital de cada vez, uma escola de cada vez, um campo de refugiados de cada vez, uma ‘área segura’ de cada vez. Com armas dos Estados Unidos e da Europa. Em meio à indiferença de todas as ‘nações civilizadas’. Que os palestinos nos perdoem por nossa inabilidade coletiva de os proteger, honrando as leis internacionais mais básicas.”

Por muito menos, repito, por muito menos, o mundo fechou as portas para a África do Sul do apartheid. Com a vergonhosa exceção de Estados Unidos e Grã-Bretanha, o boicote foi mundial. Até que o absurdo daquele regime ruísse. Era brutal e desumano? Com certeza! Nelson Mandela aguentou 27 anos na cadeia até a queda do apartheid. Mas a brutalidade do estado de Israel, agora, é de outra ordem.

O líder político do Hamas, Ismail Haniyeh, não teve a mesma oportunidade de Mandela. Negociador de um possível cessar-fogo para troca de reféns, ele se sentou, no Qatar, para tratar do assunto em nome dos palestino.

Haniyeh teve em troca um assassinato covarde e bem-planejado. Israel calou o negociador palestino na capital iraniana, na semana de posse do novo presidente do país. Um crime às claras, para o mundo inteiro ver. O vice-presidente do Brasil, Geraldo Alckmin, estava no país participando da mesma solenidade.

A reação do chamado primeiro mundo? Pedir ao Irã que evite maiores problemas. Que não adote medidas retaliatórias para não entornar ainda mais o caldo na região. E onde está a condenação veemente ao assassinato, à eliminação de um negociador credenciado? Por que passar a borracha por cima de mais uma arbitrariedade inimaginável como essa?

genocídio

Protesto no centro de Tel Aviv com cartazes contra Benjamin Netanyahu em março de 2024. (Foto: AFP)

O governo brasileiro, e o presidente Lula em particular, têm condenado o genocídio do povo palestino com palavras claras e fortes. Infelizmente não é acompanhado de perto pelo resto do mundo. Mas já passou da hora de partir do discurso para a ação.

Cancelar contratos, suspender qualquer possibilidade de troca comercial, não comprar armas do país que está promovendo o maior genocídio que o mundo já acompanhou, ao vivo e a cores. Rompimento diplomático é o mínimo que os povos do mundo podem exigir de seus governos.

O vexame que os Estados Unidos passaram, recebendo e ovacionando o primeiro-ministro-chefe-do-genocídio, Benjamin Netanyahu, no Congresso vai entrar para a história como uma das cenas mais vergonhosas da nossa era.

Os congressistas estadunidenses não estão sozinhos. Eles são mais descarados. Porém, muitos pelo mundo seguem a mesma linha. E eu não sei o que mais a humanidade espera ver e ouvir para tomar uma atitude firme e coordenada.

Na semana passada, as declarações de ministros do governo Netanyahu ultrapassaram uma nova marca de horror e desumanidade. Os 10 soldados israelenses responsáveis pelo estupro do preso palestino, no centro de detenção de Sde Teiman, foram presos Cinco foram liberados e um grupo de ultradireitistas invadiu a área com a intenção de exigir que os outros cinco também fossem soltos.

A turba não era composta apenas de fanáticos desconhecidos. Representantes do governo e do Parlamento também estavam lá, de terno e gravata, cabeça erguida, exigindo a libertação dos estupradores.

Um representante da extrema direita declarou, no Knesset [Parlamento de Israel] e na TV, que tudo que se fizer contra os palestinos é justificável. O jornal israelense Haaretz contou aos leitores que em uma reunião dos ministros de Estado, o chefe de gabinete, general Herzl Halevi, exigiu que todos condenassem a ação da extrema direita na base aérea de Sde Teiman.

A resposta de Netanyahu? “Não venha fazer pregação”. Um choque, mas nada surpreendente. O líder israelense preside e comanda o genocídio em acordo com a extrema direita, ala política da qual depende para se manter no poder.

O ministro da Segurança Nacional, Itamar Ben-Gvir, exigiu o cancelamento de todo o envio de combustível e ajuda para Gaza. Bezalel Smotrich, ministro das Finanças de Israel, garantiu que matar de fome as crianças de Gaza é “justificável e moral”. Leia novamente. Foi exatamente isso que ele disse! Defendeu matar de fome as crianças de Gaza.

Segundo o Centro de Estatísticas Palestino, Israel já matou 1,8% da população da Faixa de Gaza desde o dia 7 de outubro, 75% das vítimas tinham menos de 30 anos.

O mundo segue calado. Governos soltam notas, textos, palavras, palavras, palavras. Todas vazias porque não são acompanhadas de ação alguma. Segue o jogo, segue o genocídio, segue a cumplicidade internacional.

Somos todos cúmplices desse massacre. Somos todos sócios do assassinato de mais de 40 mil mães, pais, filhos, tias, tios, irmãos. Somos todos co-participantes, telespectadores de uma olimpíada que permitiu a participação desse país sem limites de desumanidade. Sem freios para a carnificina inimaginável. Porém concreta, presente dia sim outro também, na tela de qualquer celular de quem quiser acordar e sentir, no estômago e no coração, o que se passa na Faixa de Gaza.

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