Por Cesar Locatelli, publicado em Jornalistas Livres –
“Como tenho afirmado em declarações recentes, o elemento mais essencial para a recuperação econômica sustentável será a retomada da confiança.”
Essa frase é do presidente do Banco Central, 12/08/2016, Ilan Goldfajn. Ele e a equipe de Meirelles, contudo, que acenam com “ajustes” nas contas do governo, cortes de gastos e investimentos, associados a juros muito altos.
Eles, Ilan e a equipe econômica do governo interino, julgam que o caminho para voltarmos a crescer é recuperarmos a confiança e que isso se faz com juros altos e com corte de gastos e baixo investimento do governo. Você acha que faz sentido tentar recuperar a confiança colocando os juros na Lua e cortando investimentos na hora que o país enfrenta grave recessão?
Imagine que você é trabalhador e que precisa decidir se vai trocar de carro. Você ouve o discurso de que o governo precisa se “ajustar” e cortar gastos e investimentos, que é preciso cortar direitos dos trabalhadores, que é preciso “ajustar” a previdência e assim por diante. Você imagina que teremos, nos próximos tempos, mais ou menos desemprego? Daí você olha para a taxa de juros e, concretamente, desiste da troca de carro, não é? E desiste da compra de qualquer bem durável, porque não sabe se estará empregado no futuro próximo.
Quando você desiste da compra, a indústria não vende. O que faz a indústria?
Imagine agora que você tem dinheiro para investir na construção de uma fábrica ou para abrir um negócio. Você olha para os juros de 14,25% e para uma inflação prevista de 5,42 % e se pergunta: por que vou investir se posso aplicar meus recursos a uma taxa de mais de 8% acima da inflação?
Aí você olha para a previsão de que o PIB cairá 3,2% neste ano, segundo o Boletim Focus, divulgado pelo Banco Central do Brasil. O que você faz? Espera tempos melhores para investir, não é? E vai lucrando com os juros pagos pelo Banco Central que, aliás, aumentam rapidamente a dívida do governo. Recursos que, ao invés de irem para investimentos, vão para bolsos já endinheirados.
Como é que a economia voltará a crescer se quem está no comando da economia continua com o pé firme no freio dos investimentos do governo, se os trabalhadores estão com medo do desemprego e se os empresários estão felizes aplicando seus recursos a uma taxa de juros superconfortável?
Juntemos esse desânimo da recessão com a instabilidade política. Você sabe quem estará na presidência da República em janeiro de 2017? Sabe quem estará solto e quem estará preso? Sabe se essa política econômica, que agrava a recessão, ficará por longo ou curto tempo? Dado que é impossível ter estabilidade econômica com instabilidade política, podemos concluir que o sonho de Ilan com a recuperação da confiança e retomada do crescimento não está no horizonte.
Os economistas de cunho neoliberal e os meios de comunicação, que apoiam o golpe, vão continuar vendendo que agora a economia está no rumo saudável. Mais hora, menos hora, sairemos da recessão, porque assim é o funcionamento do modo de produção capitalista. Com custo altíssimo pelos juros e pelo desemprego. Um custo muito maior do que o necessário.
Custo social maior, desemprego maior, aumento da dívida pública, aumento da desigualdade e acirramento das relações sociais e da violência: são resultados da política econômica do governo interino. Dizem buscar a confiança e provocam a desconfiança de quase todos.
ilustração por Joana Brasileiro
Foto: Wilson Dias/ Agência Brasil (09/10/2013)