Por Tibério Canuto, Facebook
O subterfúgio e a inversão de responsabilidades tem sido a forma como parte dos espanhóis tem se comportado para justificar o injustificável: a agressão racista a Vinicius Júnior.
Disso não escapam nem mesmo partidos da esquerda espanhola. É aquele negócio, sou contra o racismo, mas… Esse foi o teor de uma tuitada do porta-voz do partido Esquerda Republicana da Catalunha. “Nada justifica o racismo, mas também não se pode sair por aí provocando”, disse a mensagem de Gabriel Rufián.
Na mesma linha foi o porta-voz em Valência, palco da nona agressão racista a Vini, do Partido Socialista Operário Espanhol, atualmente no poder. Companheiro de partido do primeiro-ministro Pedro Sanches, o porta-voz Sanjuán Roca afirmou: “jamais defenderei qualquer insulto racista, mas não é o que acontece com o Vinícius. Esse jogador é uma vergonha para o futebol”. Assim, a vítima é transformada em culpado e o culpado inocentado. A culpa do racismo do qual foi vítima seria, nessa lógica, o próprio Vinícius porque, pasmem, comemora seus gols sambando.
Os torcedores que pela nona vez proferiram gritos racistas contra o jogador, estariam apenas reagindo a uma provocação. Que os sejam doentes do pé e ruim de cabeça e por isso não gostem do samba, vá lá. Mas não são nada criativos na sua desculpa esfarrapada para camuflar o crime de racismo praticado a céu aberto e de forma massiva.
Culpar Vinícius pela agressão que sofreu equivale a atitude de um estuprador de culpar a mulher por seu estupro. Para eles, a culpa é sempre da roupa que a mulher veste ou dos seus trejeitos.
O outro descaramento é reduzir os atos racistas a vozes isoladas, como se apenas um ou dois gatos pingados o tivessem xingado de “monos”. O indignado porta-voz do PSOE, ele mesmo um fanático torcedor do Valência, soltou os cachorros para cima de Ancelotti, técnico do Real Madrid. Disse o racista enrustido: “ Nenhum insulto racista pode ser tolerado, mas também Ancelotti não pode acusar todo o estádio de algo que não aconteceu.” Depois veio com o blábláblá de que o Valência “é muito maior do que Vinícius e as mentiras mesmo quem as diga se sinta apoiados por todos os poderes da mídia de Madrid.
Registre-se, o comportamento de Ancelotti foi irretocável. Recusou-se a falar de futebol após o incidente ocorrido no estádio do Valença, para falar do racismo contra Vinícius. Para responsabilizar a La Liga e exigir uma dura punição aos criminosos.
Segundo um empresário residente em Valência e que reside nas proximidades do estádio. O coro “mono, mono!” era estridente e dava para ouvir de fora do estádio. E os torcedores que não acompanharam o coro racista por acaso protestaram?A Espanha tem de fazer o acerto de contas com o racismo que se espalha pelo tecido de sua sociedade.