O tamanho na política: luta por trabalhadores e pobres exige unidade

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Por Carlos Eduardo Alves, jornalista, Bem Blogado

Ainda na ressaca da derrota eleitoral, as esquerdas engalfinham-se em torno da formação de blocos parlamentares. De um lado, o PT acena com uma oposição sistemática ao governo Jair Bolsonaro. De outro, Ciro Gomes organiza sua banda com PDT, PSB, talvez PC do B e até com a presença excêntrica do PPS, que de esquerda, convenhamos, não tem nada.




A encrenca interna nas esquerdas denuncia mais do que a impossibilidade de uma desejável união contra Bolsonaro. Precipitadamente, o que já está no horizonte é a eleição de 2022. Trata-se, no caso específico, de ejaculação precoce política.

Ninguém que não seja charlatão pode prever o que acontecerá no governo Bolsonaro, a não ser medidas medievais nos costumes e nos direitos sociais. Mas ninguém sabe qual será a reação popular ao desarranjo anunciado.

O PT é acusado por Ciro, já na campanha eleitoral, de não abrir mão da hegemonia no campo popular. A coisa foi mais longe agora. Ciro, omisso na luta contra o fascista no segundo turno, atribui ao petismo a força revelada por Bolsonaro. O PT, por seu lado, tem evitado revidar as porradas de Ciro, mas é evidente o desconforto com os ataques. Recomendaria-se juízo para as duas´partes.

É absolutamente legítimo que o PT continue se apresentando como a maior força das esquerdas. Elegeu a maior bancada, quatro governadores e levou ao segundo seu candidato presidencial, Fernando Haddad. Mas o verdadeiro tamanho do partido foi o revelado no primeiro turno: 29% dos votos, uma marca, aliás, muito próxima do terço do país que há décadas se alinha automaticamente com o PT.

Não é correto dizer que o PT teve 45% dos votos no segundo turno. O crescimento de 16 pontos percentuais de uma volta para outra deve-se ao apoio de quem não é petista mas preferiu Haddad ao fascista.

O PT tem que se debruçar também com uma realidade triste e injusta acima de tudo. Lula continua preso e nada indica que o Judiciário cada vez mais acovardado vá modificar a situação. Confinado a uma cela em Curitiba e impedido de se comunicar com seu povo, o maior líder político do país tende, e isso é uma constatação e não torcida, a ter um peso menor no debate nacional.

É absurda, desonesta e seletiva a manutenção da prisão do ex-presidente, mas o fato é que, mesmo longe de sepultar o lulismo, a parcialidade do Judiciário está conseguindo sucesso no seu plano: primeiro, tirou da eleição quem a venceria provavelmente no primeiro turno e, agora, associa-se mais uma vez aos grandes veículos de comunicação para vender a ideia de que Lula é passado.

Ciro, sejamos diretos, está provando que coloca suas postulações pessoais acima de qualquer projeto partidário. Depois das férias europeias durante o segundo turno, no dia seguinte ao triunfo de Bolsonaro já se anunciou candidato em 2022. E pelas atitudes e declarações elegeu o PT como alvo prioritário no lugar do fascista.

Provavelmente, seu cálculo é que o PT tende a se enfraquecer e é importante desde já isolar Haddad ou qualquer outro petista. Existe uma evidência numérica recente, a eleição da maior bancada em outubro, que recomendaria mais prudência nos planos de Ciro.

Vale lembrar, ainda, que o noticiário registrou que o pedetista apostava que Haddad pararia na casa dos 10% dos votos. Em 7 de outubro, verificou-se que o candidato de Lula foi duas vezes e meia maior do que Ciro.

Não há vencedores nesse duelo desnecessário. Bolsonaro e Paulo Guedes estão com tudo armado para concretizar, via Congresso, o desmonte de todos os já precários direitos sociais dos pobres.

Governo em início de mandato, por mais atrapalhado que seja, sempre pode quase tudo. E os interesses dos trabalhadores e pobres exigem a unidade contra o avanço dos medievais.

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