O Bem Blogado entra pela primeira vez no ano no Uber literário do arquiteto Sérgio AR Pereira, autor do livro “Arquiteto & UBERnista”. Neste primeiro texto de 2022, Sérgio aborda a violência urbana com um acontecimento do início de janeiro de 2019. Época em que começou-se a fazer “arminha” com as mãos, deixando o humanismo de lado.
Sérgio, arquiteto urbanista, entre 2017 e 2019 trabalhou como motorista de aplicativo. No livro, o profissional transporta os leitores a um mundo de ambiguidades, coincidências, autoritarismo e – por que não? – humanismo.
Feliz Ano Novo?
Depois das festas e das folgas previstas nas primeiras semanas de janeiro, retomei minhas atividades normais e transportei um casal que comentava sobre uma tentativa de assalto com “arrastão” que teria ocorrido na Rodovia Anchieta na véspera do réveillon.
Um policial à paisana reagiu ao assalto e acertou um dos bandidos. Os outros fugiram “como pombos amedrontados”, como teria dito um famoso apresentador de TV, segundo o casal me contava. Eu, que não costumo assistir televisão, não havia tomado conhecimento do acontecido.
Os canais sensacionalistas haviam mostrado a cena do assaltante baleado agonizando no asfalto, pedindo socorro aos passantes, enquanto estes comemoravam o ocorrido.
Não sou a favor de assaltantes, mas não acho que devemos comemorar a morte de uma pessoa, nem que seja uma pessoa responsável por vários delitos. Ela merece um julgamento.
Porém é sabido que, se este policial à paisana fosse identificado como policial pelos assaltantes, ele seria morto sumariamente, por isso é comum que policiais reajam em situações como essas.
O problema é que em um congestionamento como os que são observados em certas datas naquela estrada, uma reação como essa poderia resultar em muitas mortes, não só de bandidos que estavam ali para matar se necessário, ou para morrer, como ocorreu, mas de crianças, idosos, pessoas que apenas estavam indo passar o réveillon na praia.
Não há como julgar o policial por sua atitude nem o elogiar. Mas tratava-se de uma situação análoga a uma guerra, onde se escolhe: mata-se ou morre-se. Ele devia ter se mantido neutro, pois, arriscou muitas vidas ao reagir.
O casal e eu também nos preocupamos com a reação daqueles que ficaram, depois do acontecido, comemorando a morte do assaltante, fazendo o símbolo da “arminha” com as mãos, o que, segundo a sua visão, “já teria alguma relação com os novos tempos e a nova ordem que se aproximava com a posse do presidente eleito”, cujo mote de campanha teria sido o armamento da população civil tão municiada com conceitos discriminatórios e segregacionistas de todo tipo, quanto despreparada para “assumir a sua própria defesa”, em uma pretensa delegação do combate ao crime, do Estado para o povo.
O fato significa o desmantelamento de nossos conceitos de segurança pública.
Para adquirir o livro “Arquiteto & UBERnista”
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Valor do livro R$ 40,00
Valor do envio R$ 10,00 (para todo o território nacional)
Valor total R$ 50,00