O velho editor

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Por Claudio Lovato Filho, jornalista e escritor – 

“Um título!”, gritou o velho editor, com sua voz de Joe Cocker hipertenso.




Ele fazia isso de tempos em tempos.

E depois acrescentou:

“Um título para entrar para a história!”

Sempre a mesma coisa, com variações retóricas de acordo com seu humor.

Alguém, geralmente um dos jornalistas mais novos em busca de um lugar ao sol na redação, sempre aparecia para dar uma sugestão. Esses novatos se aproximavam do velho editor, conversavam com ele sobre a matéria em questão (que frequentemente era a matéria principal de capa) e então arriscavam um palpite. O veterano homem de imprensa agradecia, simulava verdadeira comoção e dizia:

“Vou considerar”.

Sempre a mesma coisa.

Nunca aceitou uma sugestão – uma sequer. Aquilo se tornou um evento meio anedótico, meio ritualístico; uma parte do folclore daquela redação; algo que se poderia recordar e do que se poderia rir dali a muitos anos.

Até o dia em que ele, para espanto geral, proclamou, com seu característico timbre arranhado:

“Até que enfim!”

Ele estava de pé, a dois ou três passos da porta de sua sala, com uma lauda-padrão do jornal em uma das mãos; havia apenas uma linha escrita. A seu lado, um jovem repórter sorria e piscava nervosamente, fazendo com que as muitas sardas de seu rosto ainda adolescente ficassem ainda mais evidentes.

 Houve perplexidade genuína, aplausos debochados e cumprimentos insinceros na redação.

No dia seguinte, assim que chegou ao trabalho, no começo da tarde, o jovem repórter de cabelos cor-de-laranja viu-se logo cercado por alguns colegas, vários deles portando exemplares da edição do dia. Ele não conseguia entender por que o título que sugerira não fora publicado. Desconcerto e frustração talvez fossem as palavras mais precisas para definir sua condição de momento.

O velho editor chegou algum tempo depois. Passou pelo noviço e por todos os outros sem dizer nada (como sempre) e dirigiu-se a sua sala.

Menos de uma semana se passara quando o calejado profissional das notícias abriu a porta de sua sala, deu dois ou três passos em direção ao meio da redação e gritou:

“Um título!”

E então:

“Eu só preciso de um título!”

E por fim:

“Porra!”

Dessa vez, não houve sugestões.

Nem dessa vez nem nunca mais.

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