Por Luiz Carlos Azenha do Viomundo –
Um leitor no Facebook me chama a atenção para uma entrevista dada pelo presidente do Banco Itaú, Roberto Setúbal, irmão da educadora Neca, ao jornal O Globo, publicada em 15.12.2013.
Começa que o título é sugestivo:
‘É impossível competir com essas taxas subsidiadas do BNDES’, diz presidente do Itaú.
Vamos lá ao “programa de governo” de Roberto Setúbal:
Agora vamos ao programa de governo do PSB, onde a frase aparece com destaque:
De novo, a entrevista de Roberto Setúbal:
Notem a frase: “A boa notícia é que, passado esse período de estímulos, os bancos públicos devem voltar a suas atuações mais tradicionais“.
O que diz o programa do PSB a respeito do papel dos bancos públicos?
Sim, entendemos perfeitamente. Marina Silva concorda com Roberto Setúbal.
Segundo o programa do PSB, o Itaú deve assumir parte do papel hoje desenvolvido pelos bancos públicos, certo?
Voltemos à entrevista de Roberto Setúbal, que agora fala do BNDES:
Notem que o Itaú não tem nada a ver com os juros altos, é uma “condição estrutural”, pétrea e naturalizada do Brasil.
Mas, entendi o objetivo do banqueiro: tirar o BNDES da parada e deixar os empresários arcarem com custos mais altos, com esse tal de spread*, custos que transferem para os preços, que resultam em inflação.
E aí arrocha para conter a inflação. Arrocha banqueiro? Ah, já sei: arrocha salário, programa social, privatiza, desmonta o Estado.
Deixa o “mercado” trabalhar e fazer aquela ponte que beneficia milhares de pessoas mas não dá “retorno”, em Tocantins.
Com o Banco Central “autônomo”, “independente” ou “sob o controle da [alta] sociedade” — e sem a competição dos bancos públicos — é mamão com açúcar: o Itaú determina o spread* que bem entender.
Destaque, no trecho acima, para a frase de Roberto Setúbal: “Evidentemente, existe um ‘spread’* nisso” [grifo nosso].
Mas você, caro leitor, é incapaz de entender o significado de spread*, quanto mais o papel que os bancos privados cumprem na economia.
Segundo Roberto Setúbal, é difícil para uma “pessoa comum” entender:
Francamente, eu já não sei se tenho mais dó dele, da Neca Setúbal ou da Marina Silva. Mas, será que ele tem algo a dizer sobre os lucros bancários?
A O Globo, disse:
Coincidentemente recebi hoje, da Cecília Negrão, a seguinte nota oficial do Sindicato dos Bancários de São Paulo, que está em plena negociação salarial:
Por que os bancos lucram mais que os outros setores da economia?
Mais uma vez em 2013 o setor bancário brasileiro foi o mais rentável da economia brasileira. De acordo com dados das empresas de capital aberto feitos pela Economática, a rentabilidade mediana dos bancos com ação na bolsa em 2013 foi de 12%. Esse valor representa o meio do caminho entre as rentabilidades de cerca de 30 bancos que tem ação em bolsa, bancos de diversos tamanhos e segmentos. Se olharmos a rentabilidade dos maiores bancos que atuam no país, no entanto, veremos que os valores são ainda mais impressionantes. A rentabilidade mediana destes bancos – que concentram mais de 80% do mercado — gira em torno de 20%.
Isso significa que enquanto as aplicações de um trabalhador na caderneta de poupança fizeram seu patrimônio aplicado render cerca de 5,2% no ano passado, o patrimônio bilionário dos bancos rendeu 12% e se considerarmos só os maiores, 20%. Outros setores da economia apresentaram rentabilidade bem inferior ao setor financeiro: Setor de Construção (10,7%), Energia Elétrica (9,8%), Têxtil (6,6%), Alimentos e Bebidas (5,8%), Siderurgia e Metalurgia (5,6%), Setor Químico (5,09%) e Telecomunicações (-1,42%).
Se você duvida do Sindicato dos Bancários neste ponto, dê uma olhada no Estadão, aquele diário esquerdista:
Bancos lucram 25% a mais com a economia desaquecida
Obviamente, foi mera coincidência o fato de as ideias do sr. Roberto Setúbal terem “contaminado” o programa de um partido socialista, como se fossem pólen de algum transgênico. Tal contaminação, como está explicado aqui, pode se dar por vias diretas (máquinas agrícolas, etc.) ou indiretas (vento — ou um sopro no ouvido).
PS do Viomundo: *Spread, que nas palavras do sr. Roberto Setúbal “evidentemente será cobrado” quando o Itaú substituir o BNDES no financiamento de obras de infraestrutura, significa:
“a diferença entre o que os bancos pagam na captação de recursos e o que eles cobram ao conceder um empréstimo para uma pessoa física ou jurídica. […] Nesse contexto, o termo inglês “spread” significa “margem”. Essa margem financeira cobrada pelo banco e outras instituições financeiras, é um valor que varia de banco para banco e acresce à habitual taxa de juro cobrada pelo empréstimo”.
Trocado em miúdos, Roberto Setúbal quer para ele, na taxa que o “livre mercado” determinar — sob Marina Silva com um banco central independente (de quem?) — o spread que hoje lhe é negado pelo BNDES, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal…
Nos Estados Unidos, spread também significa aquilo que se passa no pão. Pode ser manteiga, pasta de amendoim, requeijão, gelatina. Em economia onde os banqueiros ditam regras, em geral o spread deles chega ao caviar, enquanto a sua fatia de pão com margarina invariavelmente cai de cabeça pra baixo…