Por Carlos Eduardo Alves, jornalista, no Facebook
Não será de enfado que morrerão os brasileiros que lutam pela democracia. Os acontecimentos dos últimos meses nunca permitiram um respiro para o descanso. Mas o desgoverno da extrema direita acelerou ainda mais os dias já nada rotineiros. E particularmente as últimas semanas estão criando um clima de disputa eleitoral temporã.
Sejamos realistas. A oposição do campo democrático padecia de ações mais vigorosas. Mas aí a brutalidade de Bolsonaro e de seu inacreditavelmente tosco ministro da Educação deram a maravilhosa contribuição involuntária para a virada no jogo.
Sabia-se que professores e estudantes estavam organizando atos em defesa da Educação para o último dia 15. Mas ninguém esperava o tamanho dos eventos. São Paulo, Rio, Belo Horizonte, Porto Alegre, Salvador, Fortaleza, Curitiba e outras grandes cidades brasileiras foram palco de manifestações gigantescas contra o desgoverno fascista.
Mais ainda, os atos se espalharam em muitas cidades médias e pequenas. Provou-se ali que existe espaço de rua, sim, para combater Bolsonaro e seu bando de malucos, como bem definiu o ex-presidente Lula.
A partir daquele inesquecível 15 de março, a extrema direita percebeu que o jogo não seria um passeio. Passou recibo e marcou uma resposta para o próximo domingo, dia 26. É o estranho fato de um governo de apenas 5 meses convocar a população para defendê-los nas ruas.
E assim voltamos ao bom tempo em que o asfalto passa a ser espaço da disputa política. Perto do silêncio que anestesiava o Brasil até o dia 14, avançamos, sem dúvida alguma.
O campo democrático deve, é claro, torcer para que a manifestação dos fascistas sejam um fracasso. Mas não há garantia disso. Há notícias de que igrejas evangélicas estão se mobilizando para garantir platéia ao evento.
Como sabemos, os evangélicos hoje possuem uma capilaridade e capacidade de levar gente à rua. Junto com o que podemos chamar de “imbecis de raiz”, é possível que os reacionários consigam público no domingo.
Mesmo na hipótese de os fascistas ganharem algum fôlego no domingo, porém, há perspectiva nova para o campo progressista. Logo depois, no dia 30, está marcado um novo dia nacional em defesa da Educação.
Temos aí dois grandes desafios. O primeiro já é difícil mas possível: atrair mais gente ainda na comparação com as manifestações extraordinárias do dia 15 de março. Não podemos nos contentar com aquele sucesso e nem pensar em diminuição do número de presentes.
Foi aberto o espaço para o setor popular e temos que aproveitá-lo. Para isso, é preciso compreender que não cabe a partidarização dos atos. Levemos, quem quiser, as bandeiras de suas agremiações, mas respeitemos outras legendas e organizações que participam do combate aos medievais que estão no Poder.
Entramos agora numa etapa qualitativa diferente do confronto. E é aí que se apresenta outra tarefa para as esquerdas. Como o segundo dia de luta pela Educação ocorrerá logo depois da ida da extrema direita às ruas, devemos apresentar o ato democrático claramente como de confronto.
É desejável que, embora origem e direção do movimento, os que lutam pela Educação pública de qualidade acrescentem a consigna “Em Defesa da Democracia” ao dia 30. Devemos deixar claro que nosso projeto para o Brasil nos diferencia dos apoiadores de Bolsonaro.
Por piores que sejam, Congresso e STF não devem ser fechados, queremos uma Previdência justa e que garanta direitos aos mais pobres e, em suma, o País que queremos é frontalmente contrário àquele que querem nos impor.
É hora de fazer Política, abraçar aliados antigos e acolher os novos que estejam dispostos ao bom combate. As coisas se precipitaram e vivemos agora a disputa política nas ruas. Se a eventual queda de Bolsonaro ocorrer, o problema é deles.
Não devemos nos iludir com Mourão, o lobo que quer se fantasiar de coelho. A luta dos setores populares é para derrotar a extrema direita medieval e o projeto econômico liberal que a elite econômica e a grande mídia querem enfiar goela abaixo da maioria pobre.
Todos nas ruas dia 30. Pela Educação e pela Democracia!
Foto: Américo Vermelho