Por Ulisses Capozzoli, jornalista, Facebook
Odair José, ele mesmo, ontem em um show espetacular no simpático e aconchegante “Mundo Pensante”, no número 830 da Treze de Maio, no Bixiga. Você pode estar pensando naquele cantor brega, conhecido pelo hit “Eu vou tirar você deste lugar”. Esqueça. Quem subiu ao palco ontem, para um público pequeno e privilegiado de umas 80 pessoas, foi um artista maduro, generoso, simpático, de humor refinado. O som? Absolutamente irresistível.
Mesmo que você possa ser durão de cintura, vai acabar cedendo: uma pequena dose próxima do blues, com fraseados de guitarra típico. Mas a maior parte, a quase totalidade, feita de um rock que pega literalmente na veia: ritmado, convincente, irresistível pela densidade. Boa parte do CD “Na Casa das Moças” que inclui “Chumbo Grosso”, “Pirata Urbano” “Rapaz Caipira” e o irônico “Gangbang”, referência a isso mesmo que você está pensando, entre outros.
Em alguns momentos, o que parece ser uma aproximação com Raul Seixas, mas longe de sugerir qualquer oportunismo, ou tentativa indevida. Odair José expõe a bagagem de uma longa estrada e isso inclui um mergulho no universo paralelo das drogas de onde parece ter tirado experiências para não retornar.
Inconformado com o que acontece na vida política e tomando partido claro, mas com a sutileza de um rapaz do interior que se revela em frases curtas. Como se tentasse se explicar. Desnecessário, a música que leva para o palco diz tudo.
Mas ele cantou o hit? Claro. As pessoas pediram e foi absolutamente adorável. Quanto ao espaço, o surpreendente e quase irônico “Mundo `Pensante”, parece emergido de uma viagem no tempo, mais especificamente dos anos 1970 e esse aconchego é indispensável a uma boa apresentação.
O preço do show? Você vai se surpreender com isso também: R$ 20,00, comprado pela internet e R$ 30,00, na bilheteria. Irrisório se comparado a qualquer show, em qualquer lugar, a qualquer dia do mês e do ano. Shows musicais no Brasil também ficaram impossíveis, pela altura dos preços para atender a ganância que modela um liberalismo profundamente desumanizador, em que tudo equivale ao maldito dinheiro.
O dinheiro que não compra o tempo nem a vida, a inteligência e a sensibilidade criativa. O dinheiro não é o que parece. Ao menos para quem não está disposto a negociar a alma com o ardiloso Velho Nick. Odair José realçou voo há algum tempo e vem ganhando altura.
Você certamente vai ouvir falar muito dele e se perguntar: “mas é aquele cara mesmo? ”. É isso mesmo. Um artista talentoso, sensibilizado com o que acontece ao seu redor, disposto a batalhar com sua arte, acompanhado de uma banda prá lá de competente & sedutora.
Como síntese, em relação a Odair José (70 anos, todo mundo quer saber a idade dele, de Morrinhos, no interior goiano) também se justifica a frase: “O Brasil não conhece o Brasil”.
O que é profundamente lamentável.
Obs.: Título do post é do Bem blogado