Ódio de facção da imprensa engatilhou a arma contra Cristina Kirchner

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Por Moisés Mendes, compartilhado de Construir Resistência

Os mais contundentes textos publicados na Argentina, logo depois do atentado contra Cristina Kirchner, não atacam o agressor que empunhou o revólver.




São dirigidos a outros agressores, muito mais poderosos, membros de facções da imprensa e articulados com a política de direita e extrema direita e o Judiciário, mesmo que todos sejam hoje a mesma coisa.

O jornalista Víctor Hugo Morales perguntou no jornal Página 12: quem segura a arma apontada para Cristina? E respondeu: Patricia Bullrich, Mauricio Macri e Elisa Carrió.

Líderes do que já foi a direita argentina são hoje lideranças do fascismo que orienta promotores e juízes na caçada a Cristina, como fizeram aqui com o lavajatismo que caçou Lula.

O outro artigo, do jornalista e escritor Mempo Giardinelli, no mesmo Página 12, aponta os nomes dos agressores que não aparecem segurando a mão do homem que tenta matar Cristina.

São jornalistas conhecidos no país como defensores dos interesses dos poderosos, que ele chama apenas pelo sobrenome, porque basta: Leuco, Majul, Rossi, Lanata.

Diego Leuco ficou famoso mundialmente, no auge da pandemia, em agosto de 2020. Sem perceber que estava sendo focado pela câmera, o sujeito comemorou ao vivo na TV TN, do grupo Clarín, o aumento de mortes pela Covid na Argentina. Os outros são da mesma turma.

Giardinelli escreve sobre os colegas:

“Quero expressar meu mais profundo e sincero desprezo pelo seu miserável comportamento jornalístico nos últimos anos, semeando ódio e ressentimento, fabricando mentiras e incitando uma sociedade que só precisava – e ainda precisa – de paz, democracia e serenidade”.

Morales e Giardinelli mostram como o poder de transformação da direita empurrou líderes conservadores para a extrema direita e para a violência que se manifesta nas ruas.

O atentado é o episódio anunciado pela fascistização da política. Jornalistas alinhados com o que era a oposição ao peronismo hoje são parte do bolsonarismo argentino.

São reproduzidas lá e cá, com muitas semelhanças, as reacomodações da grande imprensa, com aumento da radicalização e desprezo pelo que restava de escrúpulos.

A grande imprensa argentina fomentou e ajudou a criar o fascismo, com uma diferença em relação ao Brasil, onde levaram sem querer a família Bolsonaro e os milicianos ao poder.

Lá, as corporações de imprensa, o poder econômico e poder político de direita e de extrema direita se confundem, enquanto aqui o fascismo ainda evolui à parte da elite que o criou e que ajuda a mantê-lo com o ódio contra Lula.

A Gangue do Golpe, formada por jornalistas que ajudaram a derrubar Dilma e a encarcerar Lula, movimenta-se sem perspectivas, diante do fracasso da terceira via, da sobrevida de Bolsonaro e da proximidade de retorno de Lula ao poder.

Clarin e Nación, os grupos midiáticos da guerra contra o peronismo e o kirchnerismo, fazem lá o que Folha, Globo e Estadão fazem aqui.

Aqui, os três só não são componentes orgânicos da extrema direita, como foram da ditadura e dos torturadores, porque Bolsonaro os rejeitou.

As facções que ofereceram munição e acionaram o gatilho da arma apontada para Cristina têm equivalentes no Brasil, com diferenças de detalhes.

Na essência, usam as mesmas táticas e têm e mesma índole. São praticantes de um jornalismo miserável e muitas vezes criminoso.

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O ENTREVISTADO

Um dia depois do atentado contra Cristina Kirchner, a correspondente da Folha em Buenos Aires, Sylvia Colombo, entrevista um senador, para saber o que está acontecendo na Argentina.

E quem ela foi ouvir? Luis Naidenoff, da Unión Cívica Radical, que faz oposição ao kirchnerismo e ao peronismo.

O Senado tem 72 integrantes, e a jornalista foi ouvir exatamente um inimigo político da vítima. E a vítima é a presidente do Senado.

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QUEM MATA PRIMEIRO

Dois dias antes do atentado contra sua mãe, o deputado de Frente de Todos Máximo Kirchner disse que o macrismo “recorre à violência” contra as manifestações de apoio a Cristina “porque faltam ideias” e porque “querem obter insígnias de caubói” em resposta a uma reação das ruas.

“Estão vendo quem mata o primeiro peronista, quem bate nas crianças, quem tira um distintivo de caubói”.

Moisés Mendes é jornalista em Porto Alegre (RS). É autor do livro de crônicas Todos querem ser Mujica (Editora Diadorim). Foi colunista e editor especial de Zero Hora

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