Por Nirton Venancio – professor de Literatura e Cinema, cineasta, roteirista, poeta –
Caesar Octavianus Augustus, fundador do Império Romano, não curtia muito que o sexto mês fosse sexto no calendário de Rômulo (o gêmeo de Remo, aquele que fazia duplinha nas tetas de Roma), e como todo mandatário que se acha, mexeu na sequência e cunhou o período de 31 dias como o oitavo no calendário Gregoriano: o que se chamava Sextilis virou Augustus>Agosto.
Como se não bastassem as vontades de um imperador, a crença popular sobrecarrega o coitado do mês como o dos infortúnios, provavelmente pelas coincidências ao longo da História:
– na Antiguidade acontecia sempre o final dos invernos extremamente rígidos, muitos morriam ainda pelo resto de frio brabo, de doenças infectuosas sem vacina, crianças e velhos não resistiam;
– as cadelas no meio rural tinham seu sistema hormonal alterado pelos raios solares que voltavam fortes depois das chuvas, entravam em disparada no cio;
– os cães excitados brigavam pelas mais sedentas, babavam literalmente pelas fêmeas, a saliva transmitia doenças, e os camponeses os chamavam de loucos naquele mês.
Agosto é oito. Oito é o símbolo do infinito, os traços dos dias, do tempo em contínua ligação. Há uma teoria que descreve que o desenho do número ali deitadinho lembra a tal serpente que na mitologia grega devorava a própria cauda, e não se sabia mais o começo e o fim da dita cuja. Os caras lá das antigas em Atenas deram-lhe o nome de Ouroboros, que significa que sempre existem coisas sendo recriadas no universo, eternamente.
Crença por crença, imprima-se o oito. Seja bem-vindo, agosto.
Que venha a vacina e a pandemia desapareça no infinito.
Que o pandemônio cloroquine-se e desapareça em seu mar de fel.
Multiplique-se a cura na página infeliz de nossa história, ad eternum.