Carlos Eduardo Alves no Facebook –
Estava zapeando ontem à noite e parei em jogo da NBA. Gosto muito de basquete. Mas o jogo perdeu a importância quando a câmera parou em longo close num daqueles gigantes dos Spurs. O cara estava no banco de reservas, a derrota consumada, mas o olhar estava longe dali. Habitava alguma outra esfera.
Era um olhar distante, triste, de alheamento àquela gritaria de ginásio lotado. Desconfio que não era o único que achei a cena expressiva. Jogo correndo, a câmera voltou ao grandão, com o mesmo namoro com talvez uma cena de sua vida. No que estaria pensando aquele jogador que fitava o alheamento?
Os olhares dizem muito. Mesmo sem a ajuda do semblante, um olhar fala. Olhos sorriem, lamentam, paqueram, manifestavam dor. Uma encarada, por exemplo, pode significar o gatilho para uma paixão. Ou que chegou a hora do adeus.
Uma cenário de troca de olhares que durante um tempo fez delícia em meu cotidiano era a de um casal que encontrava sempre em meu bairro. Ele, um homem de uns 55 anos. Ela, talvez uns 10 anos mais nova. Nunca vi tantos episódios bonitos num casal. A gentileza sincera despertava até a inveja saudável. Cheguei a comentar com minha analista que jamais havia visto tanto afeto numa dupla. E durante vários anos.
Cheguei a viajar num enredo daquelas vidas. Ele seria uma cara que no segundo casamento encontrara enfim a paz do amor sereno. Ela, uma mulher bonita, seria uma ex-cética que ganhou o bom acaso da vida, o amor. Bobagem, sei.
Via sempre o casal bacana na padoca em que tomava o café da manhã. Um dos dois sempre se levantava da mesa e ia buscar o que os dois gostavam, nem sempre as mesmas coisas. Ás vezes, encontrava a dupla em algum almoço no restaurante do bairro. Gestos de carinho até na fila para se servir. Nas ruas, sempre de mãos dadas. Mas o que me marcava sempre eram os olhares. Aqueles dois eram eternos apaixonados. Meio uma música portuguesa antiga, acho que “Só nós dois é que sabemos” . Num dos trechos, diz “o nosso mundo começa cá dentro da nossa porta”. Era isso, as pessoas, lugares, apenas ornavam aquele amor.
Existem cenas de amor várias. Das mais impublicáveis até uma pisadinha afetuosa no pé. Alguns têm o dom de transformar em corriqueiro o que chama atenção para outros. Faz algum tempo que não vejo aquele casal apaixonado. Imagino que tenha mudado de bairro. Tomara que os dois mantenham aquela paixão na troca de olhares. O grandão da NBA não mostrava um olhar feliz. Era quase depressivo. Talvez pensasse no amor impossível ou perdido. Se cruzar com o “meu casal” , provavelmente deixará de mirar o infinito.