OMS denuncia Israel: “Estamos matando as crianças de Gaza de fome”

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Após dois meses de bloqueio, fome e sede atingem 2,4 milhões de pessoas. Para o diretor Mike Ryan situação em Gaza é “uma abominação”; ONU alerta para catástrofe humanitária

Por Barbara Luz, compartilhado de Vermelho




na foto: Crianças caminham pelas ruas de Rafah, no sul de Gaza | Foto: Eyad El Baba/Unicef

A Faixa de Gaza está à beira do colapso — e Israel tem responsabilidade direta, denunciam autoridades internacionais. Na última quinta-feira (1º/5), Michael Ryan, diretor-geral adjunto do Programa de Emergências da Organização Mundial da Saúde (OMS), foi incisivo ao dizer a jornalistas que “estamos destroçando o corpo e a alma das crianças de Gaza. Estamos matando as crianças de fome. Se não agirmos, seremos cúmplices do que ocorre diante dos nossos olhos”.

Israel bloqueia há dois meses toda entrada de alimentos, medicamentos e combustível no enclave, agravando um quadro de fome generalizada que já atinge 2,4 milhões de pessoas. A justificativa do governo israelense é pressionar o Hamas para que libertem 58 reféns, dos 251 ainda detidos desde 7 de outubro de 2023. Porém, os efeitos atingem de forma desproporcional a população civil, especialmente as crianças.

Segundo Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS, “2 milhões de pessoas estão sofrendo enquanto 116 mil toneladas de alimentos estão bloqueadas na fronteira, a poucos minutos de distância”. O Programa Mundial de Alimentos (PMA) declarou que suas últimas reservas acabaram no final de abril, obrigando o fechamento de 25 padarias e cozinhas populares que atendiam metade da população — ainda assim fornecendo apenas 25% das necessidades alimentares diárias. Sem comida, sem combustível e sem água potável, os palestinos agora buscam itens para queimar e cozinhar, enquanto os preços dos alimentos dispararam em 1.400%.

Um massacre de crianças

Desde a retomada da ofensiva israelense, em 18 de março, quase 500 crianças palestinas foram mortas, informou o Hamas. Só nas últimas semanas, 1.350 civis morreram em Gaza, elevando o saldo total do conflito a mais de 50 mil mortos desde outubro, segundo números locais. A Defesa Civil de Gaza relatou que, em apenas um dia, 19 civis, sendo a maioria mulheres e crianças, foram mortos em bombardeios israelenses no norte do território.

A ONU denuncia uma situação inédita de catástrofe humanitária. O bloqueio imposto por Israel já é o mais longo da história recente de Gaza, com cerca de 4 mil caminhões de ajuda humanitária parados, impedidos de entrar. “O nível atual de desnutrição está causando um colapso na imunidade”, alertou Ryan. Ele reforçou que doenças como pneumonia e meningite estão em alta, matando os mais vulneráveis.

Israel insiste que há comida suficiente no território e acusa o Hamas de desviar a ajuda, algo que o grupo nega veementemente. Além disso, o governo Netanyahu anunciou planos para expandir a ofensiva militar genocida, com o objetivo de “conquistar Gaza” e, segundo palavras do próprio premiê, promover a “saída voluntária dos habitantes”, um plano inspirado nas propostas de Donald Trump de transformar Gaza em uma espécie de “Riviera do Oriente Médio”.

Entre territórios e vidas humanas

As críticas internacionais aumentam, não apenas pelas ações militares, mas também pela dimensão das mortes civis. Para o Fórum de Famílias de Reféns, que reúne parentes dos sequestrados israelenses, o governo de Netanyahu “está escolhendo território em vez de reféns, contrariando a vontade de mais de 70% da população israelense”.

Organizações humanitárias alertam: mais de 1 milhão de crianças em Gaza estão em risco iminente de morte ou sequelas irreversíveis por desnutrição severa. Sem entrada imediata de ajuda, essas mortes serão diretamente atribuídas às decisões políticas do governo israelense.

Enquanto o gabinete de segurança de Israel anuncia expansão militar e recrutamento de reservistas, comunidades inteiras em Gaza enfrentam o apagamento completo com milhares de famílias dizimadas, crianças enterradas sob escombros, escolas e hospitais destruídos.

“Como médico, estou furioso. É uma abominação”, enfatizou Ryan. “Devemos nos perguntar: quanto sangue é suficiente para satisfazer os objetivos políticos de ambos os lados?”

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com agências

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