Onde ainda tem água boa para beber?

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Pesquisa da Universidade de Copenhague acha 400 substâncias químicas em água de garrafas plásticas reutilizáveis

Por José Eduardo Mendonça, compartilhado de Projeto Colabora




Garrafa reutilizável de plástico na mão de ciclista: pesquisa encontrou 400 substâncias químicas na água (Foto: Maria Fuchs / Cultura Creative / AFP – 31/08/2018)

Pesquisadores da Universidade de Copenhague descobriram centenas de substâncias químicas na água encontrada dentro de garrafas de plástico reutilizáveis – aquelas muitas vezes utilizadas por atletas. De acordo com os químicos envolvidos com o estudo, muitas dessas substâncias são perigosas para a saúde e há necessidade de melhor regulação e de padrões de fabricação para a indústria produtora.

Você já sentiu o estranho gosto na água depois de ela ter ficado em uma garrafa reutilizável de água por um tempo? Há realmente uma razão preocupante para isso. Dois químicos da universidade estudaram quais substâncias químicas são liberadas em líquidos contidos em tipos populares destas garrafas. Os resultados foram surpreendentes.

“Ficamos surpresos com a grande quantidade de substâncias químicas que encontramos na água 24 horas dentro das garrafas. Havia centenas delas, incluindo algumas nunca antes encontradas no plástico. Depois de uma passagem por um máquina de lavar pratos, havia milhares”, diz Jan Christensen, professor de Química Analítica Ambiental.

O professor Christensen e a pesquisadora Selma Tisler detectaram – na água estudada, originária de torneiras comuns – mais de 400 substâncias diferentes vindas do material plástico da garrafa e mais de 3.500 substâncias vindas de sabão usado na lavagem de pratos e louças. A maioria dessas substâncias é desconhecida – e os pesquisadores ainda trabalham para identificá-las. E, mesmo entre aquelas que puderam ser identificadas, a toxicidade de pelo menos 70% delas é desconhecida.

Entre as substâncias tóxicas encontradas estão as fotoiniciadoras, uma molécula que cria espécies reativas, como radicais livres, quando exposta à radiação. Sabe-se que ela tem efeitos potencialmente perigosos à saúde, tais como disruptores endócrinos e carcinogênicos. Os pesquisadores encontraram ainda uma variedade de amaciantes de plástico, antioxidantes e agentes desmoldantes usados na fabricação do plástico, bem como a dietiltoluamida (DEET), comumente conhecida como a substância ativa do spray de mosquito.

Selma Tisler enfatiza que ainda é necessário avançar na pesquisa antes de concluir se a água nessas garrafas faz mal à saúde: atualmente os pesquisadores têm apenas uma estimativa das concentrações das substâncias e as avaliações toxicológicas ainda não foram concluídas “O fato de as substâncias estarem na água é uma coisa que ainda não entendemos: este é o problema. E, a princípio, não é nada bom beber substâncias químicas ou resíduos de sabão”.

Três tipos diferentes de garrafas reutilizáveis de água de beber foram testados, todos encontrados em lojas da Dinamarca. De acordo com o fabricante, duas marcas são feitas de plástico biodegradável. Foram examinadas garrafas novas e também algumas muito usadas. Foram testadas antes e depois de serem lavadas em uma máquina de lavar e cinco vezes em água de torneira.

Em seus experimentos, os cientistas replicaram os modos pelos quais as pessoas tipicamente utilizam garrafas plásticas. Pessoas frequência bebem o que restou durante horas. Os pesquisadores deixaram água de torneira comum em garrafas novas e usadas durante 24 horas.

“Nos preocupamos tanto sobre os níveis de pesticidas na água que bebemos, mas quando despejamos água em um vasilhame para beber nós sem pensar acrescentamos centenas ou milhares de sustâncias na água nós mesmos”, diz Christensen. “Embora não possamos dizer ainda se as substâncias em garrafas reusáveis afetam nossa saúde, vou usar uma garrafa de vidro ou de metal inoxidável no futuro”.

Os pesquisadores suspeitam que os fabricantes das garrafas adicionam, intencionalmente, apenas uma pequena proporção das substâncias encontradas. A maioria dessas substâncias químicas entrou inadvertidamente durante o processo de produção ou durante o uso. Algumas substâncias podem ter sido convertidas de outras substâncias.

Segundo os pesquisadores, os resultados refletem uma falta de conhecimento e regulamentação. “O estudo exemplifica como há pouco conhecimento sobre os produtos químicos emitidos pelos produtos com os quais nossos alimentos e bebidas entram em contato. E é um problema geral que os regulamentos de medição, durante a produção, sejam muito brandos. Felizmente, tanto na Dinamarca quanto internacionalmente, estamos procurando como regular melhor essa área”, diz Jan H. Christensen.

Selina Tisler espera mais responsabilidade das próprias empresas. “Esperamos que as empresas que colocam seus nomes em garrafas plásticas reutilizáveis sejam mais cuidadosas com os produtos que compram de fornecedores e talvez exijam mais dos fornecedores para investigar as substâncias encontradas no que fabricam”, conclui.

Mas mesmo com as substâncias conhecidas que o fabricantes acrescentam, apenas uma mínima fração da toxicidade foi estudada. “Assim, como consumidor, você não sabe se qualquer das outras têm efeitos perigosos à sua saúde”, diz Selina Tisler.

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