Me mandaram ontem uma messagem assustada no Facebook.
“Tá sabendo?”
Era um tuíte de Ricardo Noblat. Noblat comunicava, num tom de agente secreto, que haveria uma “bomba” nesta quarta.
Contra Lula.
“Não levo a sério esse tipo de coisa”, respondi.
Mas fui verificar, hoje, a que Noblat se referia.
A “bomba” era um amontoado confuso de declarações do doleiro Youssef que, pelo que consegui entender, estabeleceria uma suposta conexão entre o dinheiro de uma empreiteira envolvida no caso Petrobras e um prédio no Guarujá em que Lula teria um apartamento. (Ele nega.)
Estava na manchete do Globo.
Algum editor sussurrou para Noblat que era uma bomba e ele acreditou.
Bom, como era previsível, não deu em nada. Repercussão zero.
Alguém, espirituosamente, comentou no Twitter que se tratava de uma “bomba caseira”.
Noblat confundiu seus desejos pessoais com notícia, o que tem sido constante entre colunistas de direita.
Eles simplesmente massacraram o significado da palavra “bomba” nos últimos meses.
Quase todos os dias, havia uma “bomba” contra Lula, Dilma e o PT.
O editor-chefe da Época, Diego Escosteguy, conhecido como o Kim Kataguiri das redações, prometeu inúmeras bombas na revista e em sua conta no Twitter.
Nenhuma explodiu, mas isso jamais o deteve.
Apenas nos últimos dias ele arrefeceu, por efeito das novas diretrizes de seus patrões. O KK das redações prontamente se adaptou a elas, e passou a poupar seus seguidores da expectativa frustrada de bombas.
Tão disposto a enxergar bombas quanto ele é o repórter punk Claudio Tognolli, que depois de uma carreira de mediocridade dourada no jornalismo foi obrigado a ganhar seu sustento como ghost writer de desvairados como Lobão e Tuma Júnior.
Se Tognolli ganhasse um real por cada bomba prevista por ele que não explodiu, seria um homem rico hoje.
Todos eles seguem um patrão determinado pela Veja. Em 2005, a Veja disse numa capa que Lula agonizava como Collor nos últimos dias. Deu no que deu. Dez anos depois, em outra capa, a Veja disse que chegou a vez “dele” com base numa alegada delação. A revista nem tinha chegado às bancas e a delação já fora espetacularmente desmentida.
Os estragos feitos na profissão pelos colunistas patronais um dia serão aferidos com clareza. Eles tornaram o jornalismo uma réplica de uma casa de tolerância.
Mas desde já dá para afirmar que uma das coisas ruins que eles fizeram foi, repito, desmoralizar a palavra “bomba”.