Compartilhado de DW –
A política climática internacional está sob forte pressão, e nesta COP25 não foi diferente. Apesar de tudo, há lições a serem tiradas. A nova geração, por exemplo, deu impulso positivo ao tema, opina Jens Thurau.
Longas filas se formaram nesta Conferência da ONU sobre as Mudanças Climáticas em Madri, sempre nos eventos em que políticos e diplomatas de 190 países não estavam presentes. Trinta minutos na fila para ver Greta Thunberg; mais 30 minutos para ouvir o ator americano Harrison Ford apelar por um Estados Unidos com maior consciência ambiental e chamar seu presidente Donald Trump de “terrível”.
Mas os representantes de Estados já estavam lá, como em todos os anos desde 1995, quando ocorreu a primeira cúpula das Nações Unidas sobre o clima. Na verdade, eles estão no núcleo desse circo: seu trabalho deveria ser o de reduzir juntos as emissões de gases de efeito estufa. Mas se torna cada vez mais difícil explicar o que eles decidem, o que se propõem a fazer e como especificamente querem proteger o clima.
Há muito tempo, as conferências climáticas da ONU têm sido um mundo à parte, às vezes com acordos e atribuições de culpa absurdos. Quando você se envolve nesse jogo confuso, a conclusão é: o copo está meio vazio ou meio cheio – dependendo do seu ponto de vista.
Meio vazio: desde o início das conferências sobre o clima, as emissões de gases de efeito estufa aumentaram rapidamente, não diminuíram. E isso apesar de todas as turbinas eólicas, painéis solares fotovoltaicos e carros elétricos. As metas de cada país acordadas em Paris em 2015 são muito fracas para provocar uma reviravolta. Apesar de todas as tentativas positivas, a transformação dos países ricos em direção a um futuro sustentável ainda não está em curso.
Isso prejudicou seriamente a credibilidade dos países industrializados, que, em 1992 no Rio de Janeiro, prometeram avançar na redução da emissão de gases. E num mundo de nacionalismos cada vez imponentes, de movimentos de refugiados e de novos conflitos, os países estão sob pressão crescente para resolverem juntos o problema climático a nível internacional.
Meio cheio: as reuniões sobre o clima levaram o norte rico a derramar bilhões de dólares no sul para que tecnologias verdes também pudessem ser construídas ali. Mas nem tudo deu certo: muita coisa dá errado, por exemplo, quando enormes barragens e usinas hidrelétricas são construídas na África ou na América Latina sob o pretexto de proteção do clima.
Mas desde que as conferências climáticas são realizadas, as energias eólica e solar na Alemanha, por exemplo, passaram de uma existência sombria para a principal forma de geração de eletricidade. Grandes fundos estão mudando e já não estão investindo mais no carvão.
Acima de tudo, a maior parte da sociedade reconhece que as mudanças climáticas constituem uma ameaça à existência humana, que é culpa das próprias pessoas e que elas mesmas precisam resolver o problema. Isso é melhor do que nada, apesar de todos os populistas e gritos furiosos.
A diplomacia climática internacional enfrenta hoje as mesmas dificuldades que estruturas similares e estabelecidas em todo o mundo enfrentaram por muito tempo – tais como partidos, sistemas e sociedades. A abordagem das reuniões climáticas é a de um movimento cuidadoso, de equilíbrio e compromisso. Sim, também de bazar e barganha.
Mas uma nova geração, barulhenta e determinada, não quer mais saber. Ela quer resultados de forma imediata e direta. Eles deram um novo impulso ao tema que só pode ser bom para as longas negociações de contratos. Por um lado.
Por outro, eles não explicam como o ritmo exigido por eles deve funcionar em um mundo cuja dinâmica básica ainda se baseia na queima de combustíveis fósseis. “Eu quero que você entre em pânico” é uma das frases de Greta Thunberg. Mas pânico é a última coisa que essas reuniões climáticas podem tolerar.
Em muitos países do sul, que são especialmente esquecidos na Europa, as pessoas têm não apenas o problema climático, mas também outras preocupações existenciais, como mostra a agitação social no Chile.
Os países da conferência climática da ONU se salvarão no Acordo de Paris, mesmo sem os EUA, mas com bloqueadores irritantes como Brasil, Austrália, Arábia Saudita e Rússia.
O acordo entrará em vigor no final do próximo ano, mesmo com todas as suas armadilhas, exceções e deficiências. Afinal de contas, a Europa parece ter reconhecido que o carrossel ficará parado se a UE não fizer avanços. O Acordo Verde da nova chefe da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, decidido em Bruxelas paralelamente à conferência em Madri, é um primeiro passo.
Vamos então colocar os dois copos juntos, o meio vazio e o meio cheio: os políticos devem ouvir os jovens ativistas, porque eles têm razão quando descrevem a crise climática como uma ameaça à vida – e há muito tempo.
Os políticos já reagiram à pressão de que o ousado plano da nova presidência da UE não existiria provavelmente sem Greta Thunberg e seu movimento “Greve pelo Futuro”. E os jovens ativistas devem entender que o ajuste longo e tedioso ainda levou a resultados melhores. O clima só pode ser salvo com a abordagem multilateral da ONU, porque esta abordagem vê o mundo como ele é, e não como deveria ser.