Os 120 ANOS da brutalidade em Canudos

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Por Ulisses Capozzoli, Facebook – 

Na quinta-feira da semana passada, deste insensato outubro, foram completados 120 anos do encerramento do que ficou conhecido como Guerra de Canudos. A maior barbárie já praticada no Brasil em nome de uma pretensa legalidade, a mesma que segue em debate com ares de suposta atualidade.O Brasil é uma nação jovem no tempo e arcaica nas mentalidades. E caminha para o que pode ser um ajuntamento. Um aglomerado sem identidade. A menos que a truculência, exibida sob o sol duro de Canudos, seja um ponto de aglutinação. A história de Canudos é longa, complexa e horripilante. Foi narrada no livro que Euclides da Cunha chamou de “vingador”, por recuperar a degola que ele mesmo não registrou, quando esteve no campo de batalha.




“Os Sertões”, o grande clássico da literatura nacional é longo. Mais citado que lido e seu primeiro bloco um longo tratado de geomorfologia para, nos moldes das fronteiras da ciência da época, tentar identificar o jagunço, personagem central do relato. Num resumo, do que não tem como ser feito, sob pena de extrair a vitalidade dos escritos, tudo começa com Antonio Vicente Mendes Maciel. O “Antonio Conselheiro”, um errante que, antes dele, existiram outros. A diferença é que ele aglutinará um grupo de seguidores e montará uma comunidade autônoma. Para livrar-se, entre outros, da incidência de impostos criados pela proclamação da República que, no Brasil, resultou de um golpe militar. E em corrupção generalizada, com o que ficou conhecido como “encilhamento”: especulação na bolsa seguido de caos econômico. O Conselheiro, como ficou conhecido, inicialmente irá contrariar a igreja católica e sua contrapartida no sertão, os coronéis. No primeiro caso por dividir a liderança religiosa (questão em si já complexa) e no segundo por atrair simpatizantes. O que significa retirar do latifúndio a mão-de-obra, fonte do que se produzia.

Uma fermentação política eclode no Rio de Janeiro, com ameaça de golpe contra o advogado e então presidente, Prudente de Morais (1841-1902). E uma das consequências disso a decisão de enviar para a região um destacamento policial de 100 praças, sob comando do tenente Manuel da Silva Pires Ferreira. Ele permanece alguns dias em Juazeiro esperando um ataque das forças de Conselheiro como protesto pela compra de madeira para construção de uma igreja e que não fora entregue. Mas essa foi mais uma intriga contra o líder jagunço, movida por um juiz. Ao final da espera o tenente decide marchar até Canudos, com sua carga de repressão em mente. Mas é surpreendido a meio caminho, em Uauá. E suas forças destroçadas. Em janeiro de 1897, uma segunda expedição, sob o comando do major Febrônio de Brito, com 250 homens, é fortemente repelida pelas forças do Conselheiro, utilizando armas e munição recolhidas em Uauá. A perda da força é de 100 homens e as cenas de batalhas, com os destroços dos corpos do major e seus jovens comandados repletas de horror. Em março de 1897 segue para Canudos uma força, estimulada por adeptos de Floriano Peixoto (“Marechal de Ferro, repressor contumaz, presidente entre 1891-94) e que viam em Conselheiro um “foco de resistência monarquista”. Mero pretexto para a repressão. Essa força é comandada pelo temido Antonio Moreira César, apelidado “Gravatinha” pela prática da degola em combates na Revolução Federalista no Rio Grande do Sul (1893-1895). Desequilibrado, como relata Euclides, foi um dos homens prediletos de Floriano Peixoto. Moreira César levou 1.300 homens e também  derrotado e morto logo que chegou a Canudos com a impetuosidade de um  desatinado. Eram, com Moreira César, três expedições derrotadas pela gente do Conselheiro. Então, foi enviada a quarta expedição, com organização do ministro da Guerra, o marechal Carlos Machado de Bittencourt, sob comando do general Arthur Oscar de Andrade Guimarães, reunindo mais de 4 mil homens, equipados com armas modernas mas, por muito pouco, também não derrotada.

A quarta expedição superou, em brutalidade, todas as que as antecederam. Canudos foi bombardeada com canhões, bombas incendiárias de querosene e todo tipo de fuzilaria. O povoado resistiu até 5 de outubro de 1897, quando os últimos quatro combatentes emergiram das cinzas de incêndios propositais contínuos. Pouco antes um representante de Conselheiro, que já estava morto, negociou um salvo-conduto para a população sobrevivente. O ministro da Guerra, que acompanhava os combates, deu sua palavra de honra sobre poupar essa gente. Mas não cumpriu, como um refinado patife, e uma dupla de soldados, um segurando o pescoço da vítima, o outro passando a faca afiada, encharcou com sangue de 1000 almas, a terra seca de Canudos.

Euclides da Cunha descreve a degola a partir da página 565 da edição que reviu pela última vez. Um detalhe: o sertanejo temia morrer pela faca, preferia o chumbo quente das armas de fogo. A arma branca lhe negaria a salvação da alma, segundo acreditavam. E nem esse mínimo de apreço Bittencourt foi capaz de oferecer. Era um monstro, não um humano.

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