Por Luiza Antunes, compartilhado de 360 meridianos –
Se você quer entender mais sobre os vinhos de Portugal, esse texto é para você. Preparamos um texto completo sobre os vinhos portugueses: quais são as principais castas, as regiões vínicas, os 14 tipos de vinhos. Veja também como escolher melhor os vinhos para comprar e como é a a produção do vinho nas vinícolas portuguesas.
Para apreciar um bom vinho português, basta beber e gostar, até porque “não há nada certo e errado na questão de beber vinho, tudo vale. As pessoas devem simplesmente seguir os seus gostos pessoais”, disse a enóloga e dona da agência de turismo especializada em tours vínicos, a Bago D’Uva 360º, Yara Pereira.
Os diferentes tipos de vinhos portugueses
A primeira coisa que a gente percebe sobre os vinhos de Portugal é que será difícil encontrar um vinho pelo nome das uvas tradicionais. Então, se você já sabe que gosta de Merlot ou Cabernet Sauvignon, pode ter alguma dificuldade ao procurar um vinho português.
“Portugal é um país extremamente diverso em relação a tipos de uvas. Nós temos uvas estrangeiras, porque houve produtores que quiseram plantar uvas estrangeiras. Mas nós não precisamos de plantar uvas que não sejam nossas, porque temos uma vasta seleção de castas de uvas, temos mais de 100 castas autóctones.”
Sobre os tipos de vinhos portugueses, são diversos: o Vinho Verde, que é o vinho típico do norte, bem jovem ou seja, envelhece pouco tempo e pode ser branco, rosé ou tinto; Vinho do Porto e Vinho da Madeira, que são aqueles mais doces e alcoólicos; e ainda os Tintos, Brancos e Rosés (de mesa ou seco), além de Espumante e Moscatel.
Ou seja, o que os define são as castas de uva + a região onde são produzidos:
Quais são as principais castas de uvas dos vinhos de Portugal?
Na lista abaixo, algumas das principais castas de vinhos portugueses, segundo o site Vini Portugal. Você pode tanto encontrar vinhos mono-casta (ou seja, que só usam um tipo de uva) ou aqueles que misturam diferentes castas num mesmo vinho.
• Alvarinho (branca): famosa para a produção de Vinho Verde, na região do Minho, Norte de Portugal. Produz vinhos secos, ácidos, aromáticos e de caráter mineral.
• Arinto (branca): Típica do Norte e Centro de Portugal, também utilizada na produção do vinho verde. Produz vinhos secos, frisantes e refrescantes.
• Fernão Pires ou Maria Gomes (branca): Comum na produção dos Espumantes da Bairrada e dos brancos do Ribaltejo e Setúbal. Aromas florais e acidez moderada.
• Aragonez ou Tinta Roriz (tinta): Um das cinco grandes castas do vinho do Porto, é cultivada de norte a sul, e na Espanha é conhecida pelo nome de Tempranillo. Rica em taninos, produz vinhos frutados e aromáticos.
• Castelão (tinta): Muito cultivada no Sul de Portugal, produz vinhos jovens, suaves e frutados.
• Touriga Nacional (tinta): Pode-se dizer que é a casta mais apreciada do país, encontrada em todo território. Base de diversos vinhos, incluindo vinhos do Porto. Produz vinhos aromáticos, com toques de frutos vermelhos, taninos bastante presentes e potencial de envelhecimento.
• Trincadeira (tinta): Tradicional do Alentejo, produz vinhos secos e fortes.
Yara Pereira explica que as regiões muitas vezes usam as mesmas castas: “Por exemplo, no Douro e no Dão, a Touriga Nacional é muito usada. Por termos tantas castas nas diversas regiões, acho que por isso não usamos o nome da casta para definir, mas sim a região para definir o perfil dos diversos tipos de vinhos que temos em Portugal”.
Além disso, completa a enóloga, normalmente os vinhos portugueses são misturas (blends) de diferentes castas, o que dificultaria dar o nome de uma uva só. Até porque há vinhas velhas com até 100 anos de idade, que as pessoas já nem sabem mais quais as castas utilizadas nesses blends para produzir vinhos.
Quais são as 14 regiões vinícolas de Portugal?
As indicações geográficas são referência na Europa, para indicar a qualidade e tradição da produção de uma série de bebidas e alimentos típicos. No caso dos vinhos, a certificação é conhecida como DOC, ou seja, Denominação de Origem Controlada, um sistema que limita a produção segundo regras de qualidade daquela região. Há também as certificações nacionais de IGP (Indicação Geográfica Protegida) ou VR (Vinho Regional).
Tenho um post sobre esse tipo de certificação europeia para vinhos, queijos e outros produtos agrícolas.
Em Portugal, surgiu a primeira região do mundo inteiro a demarcar os limites da produção de vinho. No caso, em 1756, limitou-se a região do Douro a produção de vinhos do Porto.
O que significa comprar um vinho com essas certificações? Quando você olha uma garrafa de vinho que contém esses selos, assegura vinhos de origem genuína e que seguem os padrões de qualidade típicos daquela região.
Em Portugal, são 14 regiões com Indicação Geográfica. E dentro delas, 31 indicações de DOC. Como você pode ver no mapa abaixo. As regiões mais famosas que definem os tipos de vinho em Portugal são: Douro, Alentejo, Dão, Bairrada, Minho, Setúbal e Madeira.
Mapa do Vinho em Portugal. Crédito: ViniPortugal
E o que diferencia os vinhos em cada região? “É o que chamamos de terroir“. Basicamente, esse termo francês tem a ver com o do ambiente em que é feita a produção, como o clima, o terreno, etc. “Presumo que por usarmos castas semelhantes em diferentes regiões o que diferencia de fato são as técnicas de produção usadas e o terroir, que confere um perfil diferente a própria uva”.
Por exemplo, a Bairrada é famosa pelos espumantes; o Douro pelos Vinhos do Porto; o Alentejo pelos Tintos mais encorpados e assim por diante.
Como comprar um bom vinho português?
Enfim, sabendo de todas essas informações, vem a pergunta de ouro: como escolher um bom vinho em Portugal? A verdade é que eu, por exemplo, tenho um critério meio aleatório: vejo se é Dão, Douro ou Alentejano (as regiões que gosto mais), se tem o selo DOC e depois avalio pelo rótulo e preço – geralmente o mais barato, o que num supermercado seria algo em torno de €2 ou €3 e numa garrafeira uns €5.
Claro, também levo em consideração se estou a fim de beber tinto, branco, rosé ou verde.
Segundo a Yara, meu método não é errado, porque:
“Nem sempre o vinho mais caro é o melhor para as pessoas. Depende sempre do gosto de cada um. O que eu aconselho sempre é que a pessoa começar a conhecer, sentir-se à vontade com as castas, e o que lhe é mais agradável no palato”.
A enóloga explica que se a pessoa não tem o hábito de beber muito vinho, normalmente aconselha-se vinhos mais frutados, mais fáceis de beber, que não tenham muita presença de madeira – para saber isso, é preciso ler o rótulo.
E depois, com o tempo e experiência, a pessoa desenvolve mais o paladar e pode ir buscando coisas diferentes. “Eu acho que a pessoa tem que começar com vinhos mais acessíveis, para conhecer as castas. Se gosta de maduro branco ou tinto, ou de um verde. Há muitos produtores pequenos e grandes de imensa qualidade. E deixar um pouco aventurar-se e deixar um pouco o que o feeling lhe diz na altura e não ter medo de arriscar”.
Como comprar vinho português no Brasil?
Hoje em dia, é muito mais fácil ter acesso a bons vinhos portugueses diretamente da sua casa no Brasil.
O problema é que muitas garrafas que custam 2 euros em Portugal às vezes saem por mais de R$80,00. E vinhos um pouco mais caros, de 8 a 10 euros, chegam a mais de 300 reais a garrafa.
A melhor forma de você evitar cair numa pegadinha e comprar um bom vinho português com o preço justo é verificar se possui o selo DOC e alguma premiação internacional.
É possível achar vinhos com uma dessas características numa faixa de R$ 30 a 50! Claro, isso pode depender também de boas promoções: recomendo assinar newsletters de lojas de vinhos e supermercados que tenham boas importadoras.
Como é a produção numa vinícola em Portugal
Ao visitar uma vinícola – ou quinta, como costumam dizer os portugueses – dá para ver de perto processo de produção do vinho desde as parreiras da uva até a garrafa. Existem muitas vinícolas familiares em Portugal, o que torna a visita ainda mais especial.
Sobre esse processo de produção de vinhos em Portugal, Yara Pereira nos falou que a plantação das uvas depende muito da exposição solar, a água, a altitude do terreno.
Ainda, há toda a monitorização da planta durante o crescimento da uva, como controlar pragas, ou a acidez e o açúcar da uva, ou seja, a maturação, para saber a altura da vindima (que é o processo de colheita e início da produção do vinho). Também é preciso controlar, com isso, os níveis do álcool.
Ela explica que quanto mais tardia a colheita, mais alto o teor alcoólico do vinho.
Depois das vindimas, as uvas vão para a adega, onde pode haver um processo mecânico, manual ou a pisa com os pés.
Depois disso, aguarda-se a fermentação: que muda de acordo com o tipo de vinho. Ao fim, prensa-se a uva, que vai ser armazenada e envelhecida. A partir daí, depende do tipo de vinho para saber como e quanto tempo ficará armazenado, seja em barricas de carvalho ou em inox.
Numa visita a uma vinícola, é possível ver esse processo de perto, conversar com o produtor e claro, provar os vinhos feitos ali. A Bago D’Uva 360º, a empresa da Yara, oferece esse tipo de passeio. Vocês podem conferir no site da agência os tipos de tour oferecidos.
Outro passeio imperdível é sazonal: se estiver em Portugal em setembro ou outubro você pode participar de uma vindima. “É possível participar em vindimas como turista. Tenho mais contato com o Douro e sei de diversas casas que fazem a vindima e deixam as pessoas apanharem a uva e vão com um pequeno lagar e fazem todo o processo da pisa tradicional”, conta Pereira.
“É um ambiente muito bonito, com tradições muito interessantes. É muito bom partilhar com turistas, somos um país produtor de vinho há muitos anos, então temos muitas histórias para contar e muitas tradições para compartilhar”. Sem contar, claro, que é muito divertido, com música e comida. E ainda, segundo a enóloga, há casas que mandam pelo correio o vinho feito pelos turistas.
Para saber mais sobre vinhos
Guia Essencial do Vinho: Wine Folly (Capa Comum)
Com explicações claras e acessíveis, O guia essencial do vinho: Wine Folly reúne informações imprescindíveis sobre as uvas mais cultivadas do planeta, apresenta as características de cada uma — afinal, qual é a diferença entre Cabernet Sauvignon e Pinot Noir? —, ensina sobre harmonização com alimentos e até mesmo a degustar e a servir a bebida. Tudo isso com um projeto gráfico inteligente e intuitivo que é um verdadeiro convite a uma taça.
Leve e divertido para os novatos e repleto de informações geográficas e históricas para os que já possuem algum conhecimento, este livro é, mais do que tudo, uma homenagem ao vinho e à cultura que o cerca.
O guia essencial do vinho: Wine Folly é tanto para iniciantes quanto iniciados. Com abordagem imparcial e prática, é indispensável, o guia dos vinhos do século XXI. Saiba mais: https://amzn.to/34lqFQn
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